segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Brincador


Porque à medida que vamos crescendo, vamos perdendo esta capacidade, porque achamos que crescer é deixar de ser crianças, porque achamos que brincar é apenas um direito delas, aqui transcrevo um texto de Álvaro Magalhães que, desde o momento que o ouvi pela primeira vez me ficou na memória e identifica o que quero ser para sempre...um brincador. E espero que com o final de uma etapa da minha vida em que isso ainda me é permitido, e com o consequente inicio de algo "tipicamente adulto" como é a entrada no mercado de trabalho, não perca essa minha capacidade e característica.
Dedico então este post a todas aquelas pessoas que entendem do que falo e que fazem da brincadeira um pedaço do ser adulto, porque ser adulto não é um tédio, é a forma de se chegar a brinquedos que estavam inatingíveis.


«Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou professor.
Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for.
Quero brincar de manhã à noite, seja com o que for.
Quando for grande, quero ser um brincador.
Ficam, portanto, a saber: não vou para a escola aprender a ser um médico, um engenheiro ou um professor.
Tenho mais em que pensar e muito mais que fazer.
Tenho tanto que brincar, como brinca um brincador, muito mais o que sonhar, como sonha um sonhador, e também que imaginar, como imagina um imaginador…
A mãe diz que não pode ser, que não é profissão de gente crescida. E depois acrescenta, a suspirar: “é assim a vida”. Custa tanto a acreditar. Pessoas que são capazes, que um dia também foram raparigas e rapazes, mas já não podem brincar.
A vida é assim? Não para mim. Quando for grande, quero ser brincador. Brincar e crescer, crescer e brincar, até a morte vir bater à minha porta. Depois também, sardanisca verde que continua a rabiar mesmo depois de morta. Na minha sepultura, vão escrever: “Aqui jaz um brincador. Era um homem simples e dedicado, muito dado, que se levantava cedo todas as manhãs para ir brincar com as palavras.»

O Brincador,
Álvaro Magalhães

1 comentário:

  1. é a primeira vez que venho aqui a este cantinho e fiquei com o arrepio agudo, principalmente com este primeiro post. diz-me muito este texto belo, sobretudo qndo m sinto deprimir por ter a bater à porta os 20 anos e quando os crescidos igualam a palavra 'adulto' a 'trabalho' e resumem com apatia e enfado os seus rotineiros dias.

    beluga, temos d prometer a nós mesmos que nunca nos tornaremos adultos profissionais, excelentes na representação da adultice, mesmo que não saibamos bem qual a forma de vida a seguir, mesmo que o negro se abata sobre os dias, mesmo que a idade pese fisicamente.
    e que os amigos que em nós semeados estão permaneçam, acima de tudo, na lembrança, local onde nunca se morre.
    **

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