sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O que há dias estava por dizer...


Pois bem, aqui irei escrever de novo o que há alguns dias gostaria de ter escrito e não conseguira por vários motivos. Chegou o momento, a fase, a mudança e sinto-o. Posso estar enganado mas acho que não. Sinto que tudo aquilo por que lutei 4 anos efectivamente e me estava destinado à quase 23 anos chegou. Puder dedicar-me às pessoas e ter possibilidades disso, puder fazê-lo com segunraça e apoio que me faltaram no último mês, em que pensava inicialmente ir encontrar mas não aconteceu.

Pois bem que falando abertamente, estou no momento de cumprir um sonho, pertencer ao grupo de Enfermeiros do Hospital de Évora. Lutei muito para aqui chegar, 4 anos de estudo e dedicação com o que tinha de mim e acho que, por vezes, o que nem tinha. Vou para um serviço que já conhecia de antemão embora quando o voltei a visitar agora com um olhar diferente, o de pertencer ali como membro de uma equipa, tudo parecia novo excepto algumas pessoas. E tanta coisa em mim mudou desde que ali passei à 2 anos e meio atrás... Mas posso dizer que estou muito feliz, acreditei sempre e continuo a acrditar que as coisas não ocorrem simplesmente ao acaso e se fiquei em Évora e vou para o serviço onde vou é porque assim tinha que ser. Ele tarda por vezes, mas faz o que tem a fazer no seu tempo certo. O tempo de espera que tive até ao primeiro emprego e o primeiro emprego realmente, não ter sido uma excelente experiência talvez não tenha tudo de mau, talvez tivesse de ser assim para que eu perceba e dê ainda mais valor ao que obtive agora.


Desde dia 20 de Dezembro, 2ª feira passada, dia em que me ligaram da direcção de Enfermagem a informar para me apresentar dois dias depois, que me lembrei bastantes vezes do dia do concurso para a bolsa de emprego, da minha correria para os papéis todos, do meu stress para os conseguir, da forma incorrecta como falei com as pessoas que gosto porque nada parecia estar a correr como devia e...a verdade é que consegui, todo o esforço, dedicação, valeram a pena e vou puder, se Deus quiser continuar a minha vida junto dos meus amigos, na minha cidade, com um futuro que espero que seja muito bom...


No entanto sinto que tenho um pedido de desculpas a fazer a algumas pessoas. Sei que ao mesmo tempo que desejei ficar em Évora de Lisboa surgia a possibilidade de trabalhar no serviço "da minha vida", a pediatria do IPO, sei que muita gente além de mim o queria e fizémos igualmente por isso, desde crianças, as suas mães, a Enf. Paula Joaquim, etc. todas pessoas que adoro do fundo do coração e a quem tenho de agradecer muito mesmo, mas o destino não quis que assim fosse, talvez não fosse o caminho certo embora o gosto pela pediatria e oncologia se mantenham e manterão certamente. Apesar de tudo as minhas sinceras desculpas se vos desapontei e se o esforço para vós foi em vão. De qualquer forma não foi em vão, há sempre algo a retirar do que fazemos e o que cresci no estágio e desde aí é notório para mim. E a prova que não deveria realmente ir para Lisboa neste momento é o facto de ter recebido a chamada para o Hospital de Évora dia 20 e no dia seguinte me ligarem do IPO para nova entrevista. Acredito que não é ao acaso e a verdade é que estou muito feliz realmente.


Outra coisa que quero e preciso de falar é sobre o local onde estive a trabalhar desde dia 1 de Dezembro até ontem. Posso dizer que o dia de ontem foi horrível para mim, turno interminável. Senti-me mal a maior parte do turno, sei que fui egoísta para algumas pessoas ali mas sabía-o e tinha de o ser simplesmente para ficar bem comigo mesmo. Eu dediquei-me aquele lugar 16 turnos, ou seja, 128 horas, e sinto que foi quase em vão. Trago experiência (e mesmo assim acho que nem sempre a mais correcta) e algumas pessoas que adorei conhecer, entre utentes e profissionais. Mas tenho sérias dúvidas se o balanço foi positivo, dado as partes negativas não serem poucas. Dediquei-me com o que tinha e abdiquei de muitas coisas para ir trabalhar ali e, no entanto, acho que não passou de simples voluntariado. Assim pareço estar a ser materialista e em vez de pensar realmente nos utentes estar a pensar no dinheiro mas a verdade é que, nesta fase da minha vida, trabalho para ganhar algum dinheiro e me sustentar e andar a trabalhar no duro e gastar o pouco que tinha para ir trabalhar e, no fim, não me pagarem o que fiz não me parece justo simplesmente. E se há motivo que atenua a vontade de retaliação imediata, são os utentes que ali estiveram comigo e com quem criei grandes relações. Foram pouco mais de 3 semanas ali mas apenas o facto de ontem, após me despedir de alguns utentes, estes começarem a chorar, mostrou-me que os laços afectivos não foram unilaterais e tambem da parte deles existiram. A vontade de chorar ao longo do turno foi colocada para o interior a grande custo diversas vezes mas tinha de ser, tive de me aguentar. Algumas pessoas porém já sabiam que iria embora e quando me viram pela ultima vez ontem, quando já não esperavam ver-me, a sua cara de surpresa e alegria foi notória e é por eles, simplesmente que aguentei mas aquele turno da forma que podia. Afinal...valeu a pena e foram 3 longas semanas com coisas más (que me fizeram pela primeira vez em muito tempo, duvidar da minha escolha de profissão, o que só por aí é gravíssimo) levo excelentes recordações e, mesmo que a grande parte daqueles utentes eu não volte a reencontrar nunca mais, levo-os comigo no sitio adequado, um músculo essencial à vida que bombeia o que me permite a vida. Sei também que sou levado nesse mesmo local por algumas pessoas e fica a pergunta que me foi feita por uma dessas pessoas "Enfermeiro Mário não é?" com o rosto de quem exprimia a ideia: "Quero memorizar o nome e guardá-lo" e é por isto que vale a pena acartar a água quente em bidons porque o peso de perder estas pessoas será bem maior...




Desejo a Todos um excelente Natal e um Excelente Ano de 2011 e mais uma vez peço desculpa a quem prejudiquei ou decepcionei com os meus actos ou escolhas, apenas segui o meu coração, o tal músculo que acima referi e que todos nós sabemos que, metafóricamente, é responsável por guardar tudo o que é importante...





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