sexta-feira, 7 de maio de 2010

2º Turno..."A Realidade"

Foi o meu 2º turno verdadeiramente, embora entenda como tendo sido o meu primeiro, pois foi quando, realmente contactei com as crianças minimamente, prestei cuidados, assiti a situações "complicadas", resumindo...vivi e respirei realmente um pouco do serviço de pediatria do IPO.
Não consigo explicar bem por palavras porque só quem passa e sente é que pode perceber o que digo, mas posso dizer que foi um turno em que percebi o quão duro e exigente pode ser um serviço mas senti o quanto quero dar de mim a este estágio, a estas crianças, a este serviço, que tanto terão para me dar também em troca, mesmo sem saberem.
Foi um turno extraordinário, em que em 10 horas aprendi mais de oncologia do que em 3 anos e meio de curso até agora. Percebi que pouco ou nada sabia acerca disto e o que já sabia era algo que tinha aprendido à minha custa, por razões pessoais. Aprendi muito acerca de terapêutica, muitos cuidados que vou ter de prestar e que até hoje não contactei, e a titulo pessoal...já posso dizer que aprendi qualquer coisa importante. A enfermeira Paula mostrou-se realmente disponivel para mim e muito me ajudou neste primeiro turno, em que assumo, estava com receio de não correr bem, de que este primeiro turno corresse realmente mal. Mas não, pelo contrário, retiro um balanço muito positivo deste turno.
Verifiquei, juntamente com a enfermeira como se preparava alguma da terapêuta, algumas especificidades, como se procediam em algumas situações, como se processa o serviço.
O ponto mais marcante da minha noite deu-se com a chegada de uma urgência, do X que é um menino com, meramente 16 anos, em cuidados paliativos e sei que quando para ele olhei à chegada, me pareceu estar a reviver algo pela qual já tinha passado com uma amiga minha no passado, quando padecia de Leucemia, pois a verdade é que apesar dos seus 16 anos, o X até parece mais velho. Isto não invalida que apesar da sua idade pude ver nos seus olhos a consciencia do que lhe estava a acontecer, via-se o medo misturado com a vontade de encarar a situação. Mas via-se que estava fraco, que não era apenas fisico, senti que o cansaço já era um cansaço crónico, da situação da doença que à tanto se prolonga e lhe tem retirado tanto. O X está em cuidados paliativos e sabe-lo, estava em casa para estar no seu lar, estável mas naquele dia não correu bem, precisou de recorrer e vi-o sofrer...vi o seu mal-estar, o seu sofrimento, a sua ansia por respirar e não conseguir e ele sabia do que era, sabia do que precisava. "dêem-me sangue por favor...dêem-me sangue" pedia ele...e ele sabia que as perdas que tinha tido com as fezes era sangue que precisava, já precisava de transfusão e ele sabia-o, sentia-o e pedia por não saber mais o que fazer. Eu vi o X assim e não posso ser impustor, custou-me mas não o queria demostrar a ele nem à mãe. Sou ser humano, sei que era impossivel alguém não sentir nada perante a situação mas à frente dele e com aquela farda desempenho um papel que não me quero esquecer, sou algo mais que humano, sou alguém que está ali para ajudar na situação de doença no que puder, sou enfermeiro e sei o que isso ali significa, a importância que os enfermeiros têm para aqueles meninos e meninas, que estamos ali para o bem e vemos muitas vezes o mal também. E embora custe assistir ao sofrimento de crianças e familias, temos de tentar servir um pouco de pilar e ajudando como podemos, auxiliá-los.
Eu sei, tenho total certeza de uma coisa e neste turno tive a prova disso. Eu sempre, em 3 anos e meio de curso senti que nos estágios cresci e aprendi muito a titulo profissional e, inevitavelmente, pessoal mas neste estágio sei, sinto que será a oportunidade para o salto, espera-me sofrimento, dor, reflexão, aprendizagem mas no fim sei que terei crescido muito, será impossivel que não aconteça. A individualidade de cada ser ali no serviço ainda está bastante mais marcada, cada criança, mãe, pai, avó, tia, etc. tem caracteristicas e formas de sofrer muito diferentes e próprias. Terei de além de conhecimento para prestar cuidados, desenvolver formas de lidar com cada pessoa, com cada familia e isso será essencial para me desenvolver como enfermeiro e, como pessoa claro.
Resumidamente, foi um turno duro, foi, aprendi muito, muito sei que tenho para aprender e quero-o, sinto-me muito motivado e espero que embora seja algo exigente consiga dar resposta a tudo o que me for exigido. Quero realmente dar o melhor de mim e espero puder ajudar...quero mesmo. Será uma longa estrada mas acho que no final a recompensa pessoal será enorme, a humanização inevitavel que se trás de um serviço como este, em que as lições de vida são constantes e marcam o livro da memória para sempre...

1 comentário:

  1. Só sei que cada é inevitavel vir ao teu blog, principalmente agora que a distancia é maior e que todos os meios são poucos para ter noticias, sei que sinto orgulho de ser teu amigo, sei que és forte... máis doque pensas!
    Uma experiencia que marca faz-nos sempre crescer, mesmo que sejamos grandes, bem grandes há sempre mais para crescer.
    Padrinho tenho orgulho em ti.
    Sim chamote padrinho porque já o és, e só tu o podes ser.
    Aquele abraço que hoje não te oude dar.

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