domingo, 9 de maio de 2010

4º Turno – 09/05/2010 – “O reverso da medalha”

A verdade é que o turno não foi de todo fácil, foi exigente, comecei a preparar terapêutica, a envolver-me mais nos cuidados, fui questionado acerca de algumas coisas pela enfermeira e não saber responder a algumas foi o que me custou. Senti-me realmente frustrado em não saber dar resposta a algumas perguntas que para mim, já as devia saber mas, a verdade, é que não soube. Não há que mentir e dizer que sabia se realmente não o sabia, e agora assim que conseguir irei procurar a resposta ao que ainda não sei. Tenho estudado mas sinto que por muito que o faça, aqui não será nunca o suficiente porque é tudo tão novo e tão especifico que, ao pegar em algumas coisas, levantam-se logo mais dúvidas e como ainda não tinha tido nenhum doente a meu cuidado até ontem, isso era dificultado porque era uma vasta área de assuntos e não conseguia centrar-me em nada especifico. Agora já tenho conseguido fazê-lo, quero realmente conseguir dar resposta a todas estas exigências e estar preparado para prestar bons cuidados ao doente que, neste momento, me tenho atribuído e, ainda aos que, eventualmente tenha no futuro.
Assisti a uma punção lombar, algo que nunca tinha visto ao vivo até hoje, foi-me explicada muita coisa acerca da forma como se procedia, os cuidados a prestar, razões pelas quais se fazem mas muita coisa ainda fiquei de descobrir e espero conseguir fazê-lo.
Mais uma vez passei grandes momentos com o doente que me está atribuído, o menino D., e mais uma vez se provou que temos já uma grande relação , e é bom saber que ele está contente por me ter como “seu enfermeiro”. Com ele tenho aprendido muita coisa, descobri uma doença que desconhecia, necessita de cuidados que nunca tinha prestado nem assistido, e tem uma personalidade extraordinária, muito bem-disposto e divertido. Tem, sem dúvida um grande apoio dos pais, muito da mãe, que é quem está a maioria do tempo com ele e essa ligação é visível. São dos melhores momentos do dia, quando tenho oportunidade de estar com ele no quarto e ver como está, como se sente, etc.
O pior de tudo isto é que, como hoje, custa muito saber algumas informações relativas a ele, e à sua situação clínica e saber que vai fazer radioterapia, que terá como consequência, a possível cegueira bilateral, deixou-me admito, em choque. Eu já tinha calculado essa possibilidade mas como ainda não me tinha apercebido que iria mesmo fazer ainda não me debruçara bem sobre essa possibilidade. Custa-me mesmo imaginar aquela criança, que já a conheço minimamente, nessa situação. Seria sempre difícil de aceitar e seguir, fosse quem fosse que passasse por uma situação idêntica mas nestes casos ainda me deixa mais apreensivo. Sei, sei que é assim, que infelizmente para se conseguir um bem maior, como a vida, é necessário, nestes casos abdicar de outras coisas, como a visão no caso do D. mas não é de consciência tranquila que o faço, não é fácil aceitar embora se saiba o porquê, imagino o caso dos pais, da irmã, dele próprio quando se aperceberem. Mas obvio que o importante é que ele sobreviva e esteja com eles.
Resumindo, o turno foi difícil, assumo que sim, houve coisas muito boas, aprendi muito e trouxe muito trabalho de casa mas existiu então, o reverso da medalha, o facto de se saber de algumas situações menos boas e que isso me deixa apreensivo.

1 comentário:

  1. Tudo na vida tem dois lados. Por vezes cabenos a escolha, mas muits vezes não temos esse poder... só nos resta tirar o menhor de cada situação e dar o melhor de nós.

    ABRAÇO ;)

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