quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Explosão de silêncio forçado...

Tanta coisa para dizer e não ter forma de o fazer, não saber como agir e que rumo tomar...andar a deriva e ansear ser escutado e não apenas ouvido, pois os sons da alma são mais intensos e doloros que qualquer palavra proferida...
Farto de estar farto do que farta, farto de indecisões, de mudanças ineficazes e escolhas erradas, mesmo quando lados da vida felizmente parecem sorrir.
A alma tem uma corda ao pescoço...

domingo, 26 de dezembro de 2010

Mundo Inteiro



Musica interpretada por Paulo de Carvalho e, depois de a ouvir hoje, resolvi que queria aqui colocar porque simplesmente, a senti.

Todos te querem bem
mas tu não, mas tu não
todos te querem também
mas tu não,mas tu não
eu vou estar aqui, vou estar aqui
para quando tu
não quiseres ouvir
vou estar aqui, por ti...

Quando não tens ninguém
eu estou cá, eu estou cá
e quero-te também
tu não vês, tu não vês
eu vou estar aqui, vou estar aqui
para quando tu, não quiseres ouvir
vou estar aqui, por ti

(Refrão)
Eu não quero
eu não quero, ver o mundo inteiro
pronto a esquecer que tem alguém
que não tem tratado bem

E quando me vejo ao espelho
e pergunto-me
quando é que esse espelho vai sorrir, porque

(Refrão)
Eu não quero
eu não quero, ver o mundo inteiro
pronto a esquecer que tem alguém
que não tem tratado bem

E quando me vejo ao espelho
e pergunto-me
quando é que esse espelho vai sorrir,

Pra mim, pra mim
e pergunto-me
quando é que esse espelho vai sorrir
para mim

(Refrão)
Eu não quero
eu não quero, ver o mundo inteiro
pronto a esquecer que tem alguém
que não tem tratado bem
e...

(Refrão)
Eu não quero
eu não quero, ver o mundo inteiro
pronto a esquecer que tem alguém
que não tem tratado bem

(Refrão)
Eu não quero
eu não quero, ver o mundo inteiro

(Refrão)
Eu não quero
eu não quero, ver o mundo inteiro
pronto a esquecer que tem alguém
que não tem tratado bem...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O que há dias estava por dizer...


Pois bem, aqui irei escrever de novo o que há alguns dias gostaria de ter escrito e não conseguira por vários motivos. Chegou o momento, a fase, a mudança e sinto-o. Posso estar enganado mas acho que não. Sinto que tudo aquilo por que lutei 4 anos efectivamente e me estava destinado à quase 23 anos chegou. Puder dedicar-me às pessoas e ter possibilidades disso, puder fazê-lo com segunraça e apoio que me faltaram no último mês, em que pensava inicialmente ir encontrar mas não aconteceu.

Pois bem que falando abertamente, estou no momento de cumprir um sonho, pertencer ao grupo de Enfermeiros do Hospital de Évora. Lutei muito para aqui chegar, 4 anos de estudo e dedicação com o que tinha de mim e acho que, por vezes, o que nem tinha. Vou para um serviço que já conhecia de antemão embora quando o voltei a visitar agora com um olhar diferente, o de pertencer ali como membro de uma equipa, tudo parecia novo excepto algumas pessoas. E tanta coisa em mim mudou desde que ali passei à 2 anos e meio atrás... Mas posso dizer que estou muito feliz, acreditei sempre e continuo a acrditar que as coisas não ocorrem simplesmente ao acaso e se fiquei em Évora e vou para o serviço onde vou é porque assim tinha que ser. Ele tarda por vezes, mas faz o que tem a fazer no seu tempo certo. O tempo de espera que tive até ao primeiro emprego e o primeiro emprego realmente, não ter sido uma excelente experiência talvez não tenha tudo de mau, talvez tivesse de ser assim para que eu perceba e dê ainda mais valor ao que obtive agora.


Desde dia 20 de Dezembro, 2ª feira passada, dia em que me ligaram da direcção de Enfermagem a informar para me apresentar dois dias depois, que me lembrei bastantes vezes do dia do concurso para a bolsa de emprego, da minha correria para os papéis todos, do meu stress para os conseguir, da forma incorrecta como falei com as pessoas que gosto porque nada parecia estar a correr como devia e...a verdade é que consegui, todo o esforço, dedicação, valeram a pena e vou puder, se Deus quiser continuar a minha vida junto dos meus amigos, na minha cidade, com um futuro que espero que seja muito bom...


No entanto sinto que tenho um pedido de desculpas a fazer a algumas pessoas. Sei que ao mesmo tempo que desejei ficar em Évora de Lisboa surgia a possibilidade de trabalhar no serviço "da minha vida", a pediatria do IPO, sei que muita gente além de mim o queria e fizémos igualmente por isso, desde crianças, as suas mães, a Enf. Paula Joaquim, etc. todas pessoas que adoro do fundo do coração e a quem tenho de agradecer muito mesmo, mas o destino não quis que assim fosse, talvez não fosse o caminho certo embora o gosto pela pediatria e oncologia se mantenham e manterão certamente. Apesar de tudo as minhas sinceras desculpas se vos desapontei e se o esforço para vós foi em vão. De qualquer forma não foi em vão, há sempre algo a retirar do que fazemos e o que cresci no estágio e desde aí é notório para mim. E a prova que não deveria realmente ir para Lisboa neste momento é o facto de ter recebido a chamada para o Hospital de Évora dia 20 e no dia seguinte me ligarem do IPO para nova entrevista. Acredito que não é ao acaso e a verdade é que estou muito feliz realmente.


Outra coisa que quero e preciso de falar é sobre o local onde estive a trabalhar desde dia 1 de Dezembro até ontem. Posso dizer que o dia de ontem foi horrível para mim, turno interminável. Senti-me mal a maior parte do turno, sei que fui egoísta para algumas pessoas ali mas sabía-o e tinha de o ser simplesmente para ficar bem comigo mesmo. Eu dediquei-me aquele lugar 16 turnos, ou seja, 128 horas, e sinto que foi quase em vão. Trago experiência (e mesmo assim acho que nem sempre a mais correcta) e algumas pessoas que adorei conhecer, entre utentes e profissionais. Mas tenho sérias dúvidas se o balanço foi positivo, dado as partes negativas não serem poucas. Dediquei-me com o que tinha e abdiquei de muitas coisas para ir trabalhar ali e, no entanto, acho que não passou de simples voluntariado. Assim pareço estar a ser materialista e em vez de pensar realmente nos utentes estar a pensar no dinheiro mas a verdade é que, nesta fase da minha vida, trabalho para ganhar algum dinheiro e me sustentar e andar a trabalhar no duro e gastar o pouco que tinha para ir trabalhar e, no fim, não me pagarem o que fiz não me parece justo simplesmente. E se há motivo que atenua a vontade de retaliação imediata, são os utentes que ali estiveram comigo e com quem criei grandes relações. Foram pouco mais de 3 semanas ali mas apenas o facto de ontem, após me despedir de alguns utentes, estes começarem a chorar, mostrou-me que os laços afectivos não foram unilaterais e tambem da parte deles existiram. A vontade de chorar ao longo do turno foi colocada para o interior a grande custo diversas vezes mas tinha de ser, tive de me aguentar. Algumas pessoas porém já sabiam que iria embora e quando me viram pela ultima vez ontem, quando já não esperavam ver-me, a sua cara de surpresa e alegria foi notória e é por eles, simplesmente que aguentei mas aquele turno da forma que podia. Afinal...valeu a pena e foram 3 longas semanas com coisas más (que me fizeram pela primeira vez em muito tempo, duvidar da minha escolha de profissão, o que só por aí é gravíssimo) levo excelentes recordações e, mesmo que a grande parte daqueles utentes eu não volte a reencontrar nunca mais, levo-os comigo no sitio adequado, um músculo essencial à vida que bombeia o que me permite a vida. Sei também que sou levado nesse mesmo local por algumas pessoas e fica a pergunta que me foi feita por uma dessas pessoas "Enfermeiro Mário não é?" com o rosto de quem exprimia a ideia: "Quero memorizar o nome e guardá-lo" e é por isto que vale a pena acartar a água quente em bidons porque o peso de perder estas pessoas será bem maior...




Desejo a Todos um excelente Natal e um Excelente Ano de 2011 e mais uma vez peço desculpa a quem prejudiquei ou decepcionei com os meus actos ou escolhas, apenas segui o meu coração, o tal músculo que acima referi e que todos nós sabemos que, metafóricamente, é responsável por guardar tudo o que é importante...





quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Vago...

Aqui estou, a preparar-me para o regresso...o regresso a um local que está digamos a saber "de pernas para o ar" onde já nada parece ser o que era, onde irei estar sozinho dentro de poucos dias, numa solidão estranha, onde inclusivamente o natal irá ter um sabor bem diferente do habitual, na companhia daquelas 3 novas colegas de casa...numa única palvra..."estranho".
Queria sentir-me como antes mas os sentimentos escasseiam cada vez mais e vejo uma frieza tomar conta de mim como há algum tempo não sentia...algo está errado neste ser que teima em se manter incólume mas parece cada vez mais, não o ser...
Um dia sei que hei-de conseguir respostas que não sejam mais perguntas...olhar para o lado e ver algo que seja uma certeza, ou pelo menos intemporal, enquanto dura...
Resumindo toda a minha vida actual, é simples, tudo se resume a:

"?"

sábado, 11 de dezembro de 2010

Nuvem

De forma rápida preciso simplesmente de: Tempo, Discernimento, Sorte e de uma Linha Guia para a minha vida...

Neste baralho de ideias, não sei que carta do jogo deve vir a seguir...muita coisa, escassez de tempo e humor nulo...
Sei do que preciso, apenas não sei onde e como encontrar algo que n se pode procurar...terá de surgir simplesmente...Mas n teimes em não aparecer...

Pouco perceptivel? Normal...tal não é o tanto para falar, gritar, chorar, cantar e não ter letras, frases, musicas para o fazer...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Relatos de uma desarrumação persistente

Pois bem que já passaram umas quantas semanas desde a última vez que aqui escrevi. Razão? Não sei...falta de tempo, de vontade, de necessidade, etc? Pois continuo na mesma: "não sei".
Mas hoje apetece-me, preciso talvez, não deva possivelmente mas quero.
Atravesso acho que uma das fases mais dificeis para mim, com um verdadeiro misto de sonhos trocados, falsos sentimentos de segurança, sorrisos muitas vezes esforçados, projectos insonsos, desilusões e umas tantas coisas a mais que nem sei o que dizer...
Desde a última vez que aqui escrevi muita coisa aconteceu, e quando digo muita digo realmente MUITA, mesmo que não o tenha sido em quantidades exurbitantes, foi qualitativemente excessivo.
O "desemprego" arrasta-se, a necessidade de trabalhar já é bastante e não é por uma questão de mero trabalho, trata-se sim, de precisar manter-me monetariamente e não ter que pedir por favor aos meus pais que me dêem mais dinheiro que, obviamente não mo negam mas sei o quanto lhes custa a ganhar e não é justo sustentarem este fardo por mais tempo. O outro lado e para mim tão ou mais importante...o ter muito para dar e não poder, o voltar a sentir-me útil e ajudar alguem e não me deixarem...não sei se terei forças para tal como ando ultimamente mas sem dúvida preciso...Hoje uma pequena estrelinha parece ganhar luz e cor no céu para mim, não é uma estrela daquelas que parecem não mover-se, é instável e no dia seguinte não sei se manterá o mesmo vigor para mim, mas hoje...hoje está lá e permite-me voltar a sentir uma esperança.
A nível pessoal...bem a nível pessoal a caixa está simplesmente "desarrumada"...não exprime verdadeiramente mas é o mais perto que consigo. Não sei onde lhe pegue aqui dentro...desilusões contínuas, quer comigo quer com outras pessoas. Pessoas que são muito para mim mas que, sem perceber realmente porquê estão a entrar no meu espaço das boas recordações. Isto porque apenas essas recordações quero manter para não me magoar mais nisto e não ter que desistir de alguém que, até hoje, estava no patamar mais alto da minha consideração. Quero acreditar que possa tirar da caixa de recordações e pôr novamente no meu presente, com tudo o que era e sempre mostrou ser.
Bem desilusão comigo porque o dia-a-dia é uma incógnita, entre obrigar-me a esquecer e a lembrar-me do significado de "impossivel", entre a luta constante entre uma estabilidade que teima em chegar e uma desarrumação que teima em aparecer...não sei mais o que fazer, estou triste comigo. Dei comigo a pensar que sou uma desilusão constante, sempre lutei por manter unido um grupo de pessoas que foram um só, um que entre 20 pessoas completamente distintas apenas era visivel 1! E sei que sempre fiz por isso, não quero parecer convencido, nem para mim mesmo, mas sei o quanto me esforçava por ter comigo sempre, de forma constante, toda a gente que gostava, mesmo que entre si, fossem pessoas muito diferentes. E no dia em que disse para mim que estava exausto, que não iria mais lutar contra algo que ia teimando em acontecer...tudo se fragmentou, foram-se os antigos jantares, é ver cada um por si, em grupos diferentes, que não se dão mal mas simplesmente não "estão" mais interessados em manter o que já houve e é normal...mas eu não podia ter desistido do que tinha, não podia. Hoje em dia, adorar cada um como adorei, adoro e vou adorar sempre, saber o valor que sempre tiveram e vão ter mas não conseguir mais fazer o que já consegui no passado, juntar amigos em pequenos momentos em que eramos felizes, deicxa-me assim, com saudade do passado, saudades das conversas com alguem que à partida nunca nos tinhamos dado tão bem mas demos, demos e damos mas algo mudou e não tenho explicação, mas que vejo como dos meus grandes amigos, dos que sei que estão e que desde que entrou na minha vida não quero ver sair de forma alguma, tenho saudades das noites de barracada no quarto, cada um mais alcoolizado que o outro, a fazer merda cada vez pior, saudades de jantares e saídas em que andavamos sempre juntos seja a falar, beber, fumar ou simplesmente estar, saudades simplesmente de os ver a todos a divertir-se e pensar "este dia devia ser eterno e tenho mesmo um grupo brutal" e acordar no dia seguinte, ressacado mas a pensar sempre que aquelas pessoas e o que faziamos ia ser repetido sempre. Pois bem...deixou de ser, não é mais como era, as pessoas estão mas seja a teimosia do crescimento para o estado "adulto" (DANGER) ou a mera chatisse de continuar a fazer o que sempre se fez, de agora estou farto "destes" vou estar mais com "aqueles", "não vou porque perfiro dormir/jogar/fumar/beber/etc etc sozinho ou so com um ou outro...".... Enfim são meros desabafos de quem sente um desabamento daquilo por que sempre sentiu paixão, amigos, a simples presença deles e de quem dava a vida por qualquer um...
...e agora na eminência de muito em breve ter de sair daqui, de junto de cada um deles e saber que a distância prejudica sempre alguma coisa, como já o fez em meras 9 semanas em lx e mesmo vindo cá regularmente na altura, sinto novamente medo...mas quem de vocês amigos (que sei que sabem bem de quem falo, sei que cada um percebe quem são as pessoas e se me dirijo mesmo a um em particular...) aguentar ler tudo isto, se sequer lerem, digo-vos sem medo que vos adoro e que o tempo não volta para trás mas que o passado leva-se para o futuro e o que é bom mantem-se presente. A cada um, o meu mais sincero obrigado, a cada um, por estes momentos que permacem no meu pensamento, são nostálgicos mas se aqui estão, tiveram valor e mesmo que não sejam repetidos, são eternos para mim... e quanto a isto mais nada a dizer...
Quanto ao resto...bem tudo o resto está ainda desarrumado tal como o que falei que sei que amanhã permanecerá caído sobre o chão conspurcado do pensamento... Não quero mais falar, quero e espero que as forças ainda se mantenham porque tenho de conseguir, conseguir muita coisa...muito para contar, muito para viver e até ao momento, poucas respostas às constantes perguntas que surgem...

sábado, 11 de setembro de 2010

A minha história académica...

Pois bem, no meu almoço final era previsto eu ter feito um video para vocês e para mim, algo que na altura não consegui por questões de tempo. Estive durante todas as férias a tentar começar a fazer mas só agora aconteceu... Não está nada de extraórdinário mas tem como objectivo apenas retratar o meu percurso académico que tem o valor pessoal que todos sabem. Não sei se ficarei com vocês amigos, muitos mais tempo e só o tempo o dirá mas, realmente apenas quero que saibam que mesmo que não fique, eu levo-vos comigo marcados no coração.

Falta, no video, algumas coisas mas que não tinha fotos de tal, principalmente de momentos de tuna, pelo que coloquei apenas a que entendi serem as apropriadas.

Quero dedicar este video então às pessoas que são hoje, os meus pilares e os meus melhores amigos:

Aos meus 9 afilhados, à Raquel, Helder, Ana Catarina, Casanova, Filipe, David e ao Daniel e Silvio. Nunca me esquecendo tambem daqueles que tambem o são, as pessoas da minha turma que sempre estiveram a meu lado e sabem bem que o valor que têm para mim é intocável, quero realçar e dedicar também este video a um grande amigo, aquele que mais me acompanhou nesta vida académica e que tem um grande valor para mim, o Bagorrilha.

Adoro-vos e muito obrigado por tudo, sinceramente!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cuidados Paliativos

"Posso dizer que tive inveja da sua morte"


Foi esta a frase proferida por um Sr. que estava presente na morte da sua mulher, na Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz, onde estive a realizar estágio até ontem. O Sr. em questão, tal como o filho estavam presentes no momento da morte da Sr.ª e disse-nos isto uns dias depois, que sentia inveja da morte da esposa e que desejava um dia poder ter uma morte como a dela, "boa", tranquila...

É como diz a grande médica e mulher, Dr.ª Isabel Neto: "E há coisas importantes como dizer adeus, dizer obrigado, dizer perdoo-te, dizer perdoa-me e dizer gosto de ti...". E é tão verdade, palavras simples mas que não dizemos tantas vezes por acharmos desnecessárias. Ali ganham uma nova vida.

Foi assim que se passaram 4 longas semanas no serviço tão diferente do que esperava, muito bom, mas muito diferente. Aprendi bastante e como me foi dito no último momento lá "agora, és responsável por passares uma mensagem, por saberes o que são cuidados paliativos, saberes reconhecer o que se faz e quando alguém está a precisar deles..." e assim espero poder fazer, poder cumprir esta missão a mim agregada de momento que quero levar a bom porto em serviços que, mesmo não direccionados para esta área, possam, sem dúvida aprender com estes meus conhecimentos, que embora poucos foram essenciais para mim.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Orgulho de ser Português

Estranho, posso dizer que espantosamente sinto uma saudade de um tempo nunca vivido, um passado pelo qual não passei mas que me deixa nostálgico. Vendo e ouvindo neste momento música da Diva Amália Rodrigues na televisão, com a passagem de algumas imagens sinto o porquê de ser tão bom ser Português, o orgulho a pertencer a esta terra, a este povo e esta cultura que tantas vezes criticamos e "apontamos o dedo" por razões políticas e outras questões, mesquinhas, que não são, realmente, as verdadeiras definições da "alma" deste País.
As saudades surgem pelo facto de, embora gostar bastante da época em que nasci, a ideia com que fico, é que no tempo dos meus avós existia uma "humildade diferente" nas pessoas, uma restrição em muitas coisas que obviamente não seria bom de viver mas o dia-a-dia era feito com uma certa "pureza" há muito tempo perdida.
Ser português é ouvir fado, é passear por Lisboa antiga e sentir um arrepio no corpo, é estar numa esplanada e beber cerveja, é azeite, é ver um pôr do sol em paisagens incomparáveis, é visitar tudo o que é novidade mesmo que apenas para observar, desde uma inauguração a um acidente de viação, é queixar-se de tudo e nada ser suficiente, é receber com um sorriso, são enchidos, caracóis, e tanta tanta tanta outra coisa inexplicável.
É bom ser Português, mesmo numa altura em que as dificuldades de cá viver são visíveis. É um encanto não possível de descrever por palavras, ouve-se, cheira-se, toca-se e simplesmente...se sente.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Memórias Soltas de Saudade

São memórias, pessoas assim,
gargalhadas soltas num espaço
Que ocupado ou vazio
Nos preenchem a alma em cada pedaço

São momentos marcados
Escritos, passados
Através da fala e da memória
De quem vive e os viveu

Resta agora apenas viver o dia de amanhã
como se a eternidade do hoje fosse real
e o passado do futuro assente afinal,
num sonho desde sempre partilhado

A angústia da saudade e a nostalgia da partida
Levam ao desejo de um breve regresso,
Como se fosse essencial à vida,
Para aquela cidade tão nossa, tão minha confesso.

Cidade que possui mais de mim que o corpo que carrego, vazio.
Pois a alma lá ficou ansiosa, pulsante,
Pelo retorno do que lhe falta para que volte a ser apenas,
Um mero estudante.

Não o voltarei a ser, bem sei
Mas o importante é nunca, no fundo
me chegar a sentir o ser humano que serei
se a vida me levar de lá: Triste, Ausente....Imundo

by: ML...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Getting over you!!!

Porque estou simplesmente viciado...! Adoro esta música...


Getting Over You lyrics

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Nem me falem

Tenho vergonha, assumo que tenho e muita de me sentir como me sinto e pensar no que me surge na cabeça depois do que vejo acontecer a quem n merece. Tenho saudades do mundo...do meu mundo que parece cada vez mais longe...A minha vida é um mero "?" e não tou a conseguir lidar bem com tudo isto...
As pessoas não merecem e eu sei-o mas n consigo fazer melhor...quero paz! Não sei onde a encontrar mas espero e desejo que surja rápido. Desculpa-me se és das pessoas que tenho magoado nos ultimos tempos, se tenho demonstrado pouca paciência e abertura para contigo, provavelmente não o mereces, nem tu nem os restantes, mas não consigo mais evitar...tou e explodir e não vejo brigada anti-minas...

É bom que isto melhore de alguma forma...é bom mesmo...

terça-feira, 13 de julho de 2010

Enfim...

E pronto...parti...saí da minha cidade...e como foi dificil ver aquela placa tantas vezes banal que diz "Évora" e tem apenas um traço vermelho a atravessar na diagonal do canto superior direito ao canto inferior esquerdo...
Ir vendo a cidade desaparecer no espelho retrovisor e saber o que fica para trás...
Só peço aquela cidade e a todos os que comigo partilharam e partilham a minha história lá, por favor, não me esqueçam! e façam com que os 4 anos que aí estive não tenham sido em vão, que esse chão empedrado tenha simplesmente gravado alguma coisa de mim...da minha história como eu levo na sola dos meus sapatos e na alma algo escrito de cada um de vós...
E a minha história acabou... e logo eu, com tanto ainda para escrever... mas a caneta por vezes deixa de conseguir libertar tinta...quero voltar, quero continuar onde pertenço...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O dia final de uma etapa complicada mas saborosa

Pois bem...nem sei por onde começar a escrever...
Já foi, acabou...há que aceitar o facto. Mas ainda não consigo fazer.
Ontem foi um dos dias mais tristes para mim e ao mesmo tempo um dia muito bom, se é que isso é possível. Foi a minha missa final de curso, e simboliza para mim o fim...aquele fim que não queria ter visto chegar tão depressa, que significa o fim de algo que tanto adoro, uma vida de tradição académica, de vida boémia, de crescimento pessoal e de contacto com pessoas que adoro e estarão sempre no meu coração.
A missa foi tão dificil...tudo tinha um grande significado, cada letra cantada me lembrava e simbolizava, em pensamento, algo que me fazia desabar. Aguentei-me, com muito esforço até à entrega das pastas mas a partir daí...foi o desabamento completo. E como hoje ainda dói...
O Salmo que tanto me custou acertar notas e, eu já sabia que iria ser assim, mas tive a meu lado alguém que me é tanto nesta vida, a minha afilhada Teresa e como foi bom poder cantar contigo, viver aqueles minutos contigo e quando mais precisei...deste-me a mão e apertámos ambos com força. Sabes o que significou para mim? Muito mesmo.
Durante toda a missa olhava simplesmente para algumas pessoas que me são tanto e que adoro e era o suficiente para sentir tantas saudades antes mesmo de partir. Foi o caso do meu afilhado andré, miúdo como te adoro e marcas-te em tão pouco tempo a minha vida com a tua forma de ser, o meu muito obrigado. A pseudo-afilhada Bete com o seu mega sorriso e olhar doce olhava para mim lá longe e aquele olhar "matava-me". O mesmo com a minha namorada, que lá do coro me olhava e me sorria e ela sabia o quanto isso era importante, mesmo que eu n o conseguisse retribuir tantas vezes quanto devia.
A verinha, minha afilhada, tantas vezes tentei ve-la e não conseguia de onde estava, e o que me custou mas algo relacionado contigo e que não me esqueço. Perguntares-me antes do inicio da missa "Padrinho, leste a minha fita? Não me falas-te dela...!" e eu só respondi "Oh Vera adorei, achas que não? e sinal disso é que trago isto comigo" e tirei o terço que me ofereceu do bolso e mostrei-lho. Fizes-te uma cara que não consigo descrever por escrito, de felicidade de o ter comigo e de saberes que lhe dou um grande valor. Sinal disso foi que antes mesmo de ir cantar o salmo, levei a mão ao bolso e lhe toquei simplesmente. Sei o que significou para ti, o que ainda significa e o que significa para mim, e tinha-o no bolso porque era incapaz de ir para aquele momento tão singificativo e que de tanta coragem precisava, como foi toda a missa, sem levar aquele terço, a medalha da raquel e sem saber, tinha uma foto da minha linda avó no bolso, dada pela minha mãe antes da missa começar, embrulhada num lenço de papel...
Foram tantas coisas, tantos pensamentos, tantos momentos marcantes, ver tanta gente a chorar, a minha familia, amigos meus...e como custa...
Depois a passagem no corredor...indiscritível e irrepetível...
A actuação da tuna...especial mas com a confusão lá do padre a impedir-nos de concluir ali no mesmo sitio...perdeu um pouco o encanto mas houve algo que fez valer a pena tudo o isso...duas coisas...a passagem a finito :D que nunca pensei ser possível até há algum tempo e como me sinto orgulhoso... E a outra coisa, que sinceramente ainda me marca mais, me dá tanto orgulho, e que jamais esquecerei, ter sido escolhido para padrinho de um dos miúdos mais brutais que já conheci e que tanto significa para mim desde que o conheci e, sem dúvida, um dos meus grandes amigo, o Pássaro. O grande pandeireta da tuna. A ti miúdo, se chegares a ler isto, o meu muito obrigado pela oportunidade, é grande honra e sei que sabes do que falo, não apenas de sermos padrinho/afilhado porque isso, já o eramos há muito, mesmo antes de sequer entrares na tuna mas digo por tudo, por seres quem és, alguém que ficará comigo para sempre e que só peço para nunca deixemos a amizade morrer pois sabes bem o quanto significas!
A ida ao banho, o ser mandado pelos meus afilhados, e o quão importante foi! Ter finalmente concluido o que não tinha feito há um ano, ir ao banho com o afilhado Fábio, que tanto o desejava mas na altura não se conseguiu fazer.
E depois, finalmente, o almoço, inesquecivel, com grande parte das pessoas essenciais para mim. A todas elas o meu obrigado. Tenho ainda de referir que estou muito contente por ter visto na minha missa e almoço, o filipe e o David, que estavam a trabalhar e fazia anos respectivamente. Sei bem o que fizeram para ali estarem e no caso do David o que lhe custou não estar em casa neste dia, e sei que um simples obrigado não é suficiente mas realmente é o que consigo dizer neste momento. São miudos brutais!
O meu obrigado a todos vocês, que já enumerei e aqueles que não referi o nome atrás mas que são essenciais na minha vida, e sabem bem quem são, estavam comigo no meu almoço e só por isso significam o que significam... ADORO-VOS e para onde quer que vá, levo-vos comigo no coração!!

PS: ADOREI O VIDEO E QUERO AGORA VÊ-LO E OUVI-LO NA TOTALIDADE!!!MUITO OBRIGADO!!!!!!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Último dia de feira...

Sei bem o que levo deste dia, sei bem o que me disseram e voltam a dizer até aos dias de hoje...mas há coisas que ficam marcadas... frases que proferem, ideias que têm...e afins...
Eu sei o que me espera o futuro, sei a merda que sou em muita coisa que digo e nas ideias que tenho mas não são coisas descabidas, são simplesmente coisas que aprendo com as situações do dia-a-dia...
A vida depois do que bom que passei não me está a parecer bela e isso talvez terá consequencias...n sei, sei que há coisas muito dificeis de aceitar e está a ser-me dificil enfrentar muita coisa, muitas pessoas, sinto-me simplesmente deslocado dos projectos que achei eternos, sinto-me longe das pessoas que achei infinitamente na minha vida...sinto-me a perder tudo por entre os dedos sem poder fazer mais nada em relação a isso...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Aluno ---> Profissional

É verdade...
Nem acredito...
Sonho?
Realidade?
Aconteceu?
Em resposta a isto e embora ainda não tenha canudo, não tenha oficializado ainda o meu fim de curso...fiz o último turno, terminei estágio, O ESTÁGIO! Onde tanto aprendi e era um objectivo pessoal à tanto tempo...Espero que o futuro me sorria como hoje o mundo parece ter-me sorrido ;)

domingo, 27 de junho de 2010

Can You Feel The Love Tonight



Pois são realmente momentos marcantes e acho que dificilmente esquecerei este momento vivido hoje no serviço... Quando entro na sala de convivio, onde estavam os meus dois meninos de hoje, ambos de 3 anos, a ver o rei leão, um dos filmes que é marcante da minha geração, tinha 6 anos quando o filme saiu e toda a gente da minha faixa etária sabe do que falo...

Mas o mais marcante nem foi esse facto, é que um deles tem estado muito triste por períodos, não come nada. E entretidos que estavam ambos ele vira-se para a mãe durante a luta final do simba com o Scar "mãe, onde está o pai?!" ao que a mãe responde: "filho o pai está no céu!". E esta pergunta/resposta repetiu-se algumas vezes. E isto aconteceu pk este menino de 3 anos perdeu o pai quando tinha 1 ano, ou cerca, há 2 anos e após o filme, que ele já tinha visto antes, em que o mufasa morre e vai para o "céu" segundo lhe disseram e foi incutido ele foi-se lembrando.

É realmente marcante ver uma criança desta idade perguntar isto à sua mãe, ainda mais quando ao som desta música "Can tou feel the love tonight"

E aqui fica esta música, importante relembrar:


A very good surpresa

E é verdade, a Vera tem razãoe isto também tem de ser referido, o Casanova de manhã veio realmente despedir-se de mim à rodoviária. Sinceramente foi uma surpresa muito boa para mim, não por ser realmente o casanova, mas por alguém como ele, que chega sempre atrasado a tudo, se levantar mais cedo pela simples razão de se vir despedir de mim. Miúdo acredita que o que fizes-te teve um grande significado e hoje disse-te isso mesmo, não te esqueças nunca disso pah!!
Grande abraço!

sábado, 26 de junho de 2010

A última noite de estudante em Évora

Não quero, não consigo imaginar a minha vida sem escrever "Estudante" nas folhas de identificação, na minha simples vida. Mas a verdade é que, se tudo correr segundo esperado, esta foi a minha última noite como tal.
Foi a minha última noite enquanto estudante com algumas das pessoas que amo, os meus amigos e quem diria, à 4 anos que isto iria ser sentido desta forma.
Ganhei muita gente, perdi outros mas significa que quem ficou, quem está, está porque merece esse lugar na minha alma, na minha vida e levo para todo o sempre.
A vida indica-nos alguns caminhos e leva-nos a conhecer pessoas conforme as nossas escolhas e hoje ouvi pessoas dizer "porque é que não mostras-te esse teu ser antes". Isto é realmente algo verídico, eu não sou hoje como sempre fui, já fui modificando há algum tempo a minha forma de ser, por razões de vida e só mostro o que sou a quem acho que merece e hoje sei que fiz escolhas certas, escolhi as pessoas certas, nos momentos oportunos.
Já recebi mensagens únicas da minha namorada e ainda a uns minutos, ouvi hoje um dos meus miúdos, do 19ª CLE, que nem sequer seria suposto conhecer-me pois podia nem ter-me dedicado a eles, dizer-me "amanhã estou cá ao meio dia para me despedir de ti" e sei bem que isso não acontecerá mas não me custa sabê-lo. E porquê? porque ele estava bêbado e não me esqueço de hoje discutir isso com algumas pessoas e me ficar guardado como resultado da conversa "as pessoas bêbadas dizem o que querem e sentem na altura, como sendo o que mais querem" e eu sei bem disso, e o Casanova ao dizê-lo apenas significa para mim que hoje tinha vontade de amanhã cá estar antes de eu me ir embora para Lisboa novamente.
Nem sei onde acabar de escrever, não consigo, tanta coisa hoje, tanta gente que amo junto de mim, que me dizem tanto, tantos beijos, abraços, apertos de mão, sorrisos, lágrimas, ordens, obediências que nem sei onde acabar...
Eu sei que estou a acabar esta fase da minha vida, sei e prometi que ficaria na vida de alguns dos que comigo estavam hoje e faço questão de cumprir. Sei que não depende só de mim, sei que será difícil mas mesmo tendo de ir eu tentarei manter esta ligação tão essencial para mim e para me manter vivo... ADORO-VOS a TODOS!!!! Não me equecerei nunca de ter depois de achar que já não sei praxar, de já não me sentir nessa obrigação, nesse dever, ter mandado todos de 4 e todos vces terem obedecido e feito alás a quem menos já dá valor a essas ordens!! Eu como disse acho que tudo isso faz parte de um ciclo, é um "poder" que chega a quem quer mas se vai e passa para outros quando é necessário e entendo que isso aconteceu comigo...esse poder, da praxe, já esteve muito presente em mim e por muito que me deixe triste, que me custe, tenho de aceitar que se foi o meu tempo e vhegou o tempo de quem tentei ensinar da minha forma, os meus afilhados de praxe!!! Tenho orgulho em vós, de vocês depende o espirito académico da nossa academia, da nossa mera escola mas eu sei que estará bem entregue nas mãos de muitos de vocês...
Apenas quero repetir o que disse a algumas pessoas hoje e a outras não disse pois simplesmente não tive oportunidade...ADORO-TE e as pessoas sabem quem são, eu simplesmente perdi a vergonha de o dizer...tenho esse dever para convosco, rapaes, raparigas, homens, mulheres, afilhados, pseudo-afilhados, afilhados do coração, etc. Adoro-vos mesmo e quando nos voltarmos a ver...3ª ou 4ª feira, espero olhar para vocês com um sorriso na cara e sentir orgulho no curso que escolhi e puder sorrir e dizer "sou enfermeiro!".
Sei que fiz esta escolha um dia e vim em dúvidas, mas a verdade é que acima de tudo, isto me proporcionou momentos inegualáveis e que ficarão para sempre comigo, são jantares, praxar e ser praxado, festas, frequências, estudo, almoços, jantares, pequenos-almoços, estágios, acordares, adormeceres, idas ao WC em festas de S.João, actuaçãoes, sons, ares, etc etc etc etc
A vida nem sempre parece sorrir mas a verdade é que por detrás de cada estrela que se vê no ceu existe um significado e quando vejo pessoas como hoje, a olhar para o ceu em busca de mais uma estrela, uma nuvem, isso me faz lembrar que o sonho e a vontade batem todo o significado serio e cientifico por detrás do que nós queremos, do que nós entendemos...dos nossos sonhos...
E queria estar a chorar, precisava mas sabem que mais? não estou e sabem porquê? porque me vou embora, vou terminar o que comecei e vou fazê-lo com orgulho, com MUITO ORGULHO em um dia ter escolhido isto, ter-vos conhecido e SER FELIZ ACIMA DE TUDO CONVOSCO e não há que sentir tristeza...há que pôr um sorriso na cara e dizer: "PORRA SOU FELIZ POR CONHECER-VOS E TENHO ORGULHO POR TEREM APARECIDO NA MINHA VIDA"

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Perto do fim...

É inevitável pensar no facto de estar realmente a acabar o curso. Existem pessoas importantes a pedir-me para não colocar nada relacionado com isto no msn, não falar assim disto mas é mesmo assim...Estou a acabar o curso e há que encaqrar de frente a situação, por muito dolorosa que seja por várias razões, e quem me conhece percebe bem do que falo.
Não quero encará-lo como um fim, ou um inicio ou o que seja, é apenas um facto inegável e tenho de centrar o pensamento no facto de ser esse, afinal de contas o meu objectivo ao vir para Évora, tirar este curso. Tudo o resto sabe ainda melhor, tudo o que ganhei nestes 4 anos, pessoas conhecidas, conhecimentos de vida e lições muito importantes que aprendi à minha custa muitas vezes. Aqui cresci, nesta cidade aprendi a ser "eu", tornei-me independente, conheci "aquelas pessoas", as que estão gravadas a ferro quente de onde não saem mais, na alma. Não é no coração realmente, é na alma, pois o coração um dia poderá ser retirado ou perdido mas a alma, mesmo após desaparecer deste mundo vai comigo e essas pessoas vão-no também.
Faltam apenas 3 míseros turnos para puder, se tudo correr bem, auto-denominar-me "Enfermeiro" e sei bem o que isso significa, não apenas para mim mas para todos aqueles que em mim acreditam, para todos os doentes que até hoje tratei, desde recém-nascidos a idosos, passando por crianças de todas as idades, adolescentes, adultos,etc..., para a minha familia e para os meus amigos, para pessoas que estão comigo todos os dias e para aquelas que mesmo não estando fisicamente presentes, nunca mais me largaram e sei que seguem todo o meu percurso de vida.
Estou esgotado do estudo, de estágio, do curso, desta vida profissional enquanto estudante, mas apesar de tudo, de ainda não ter acabado, já sinto saudades de tantos campos de estágio por onde passei, de tantos enfermeiros/enfermeiras que me ensinaram tanto e fizeram de mim o profissional que sou. E ainda hoje fiz noite e a verdade é que já tenho saudades das crianças do serviço onde estou, na pediatria, fizeram desenvolver em mim sentimentos estranhos e, raramente sentidos até hoje.
Na próxima semana, por esta altura já serei considerado, para mim e para quem está à minha volta...Enfermeiro Mário...Sensação estranhamente boa...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um dia de desabafos

Pois bem que hoje se passou mais um dia. Cada dia a passar é mais um dia próximo do fim/inicio e já é um misto de sensações tão grande e ainda faltam 3 semanas e meia...
Nem sei bem o que sinto hoje, fui almoçar a casa da minha avó e tão bem que me soube, que me têm sabido estes dias em casa, com a minha familia. Vi hoje a minha tia, e a verdade é que vergonhosamente não a via há 6 meses sensivelmente. Quando ela me chamou a atenção para isso assumo que até sinto vergonha, já que a adoro e não a ver durante tanto tempo custa-me mas nem parecia ser há tanto tempo. Mas foi hoje, foi hoje que decidi dar o passo de a convidar para minha madrinha de curso e oferecer-lhe a fita branca para me escrever e, ver a sua alegria pelo convite valeu tanto a pena e soube que tomara a decisão certa. É assim que tinha que ser, tinha de ser ela, por ser a responsável por eu ter escolhido Évora no boletim de candidatura há 4 anos atrás (parece ter sido ontem), sem se aperceber foi ela que me motivou a escolher esta cidade que hoje a vejo como "minha cidade", onde conheci algumas das pessoas mais maravilhosas da minha vida e não imagiono o que seria se não tivesse ido para lá...Foi uma das três pessoas que mais me fez optar por este curso, enfermagem, mas infelizmente as outras duas pessoas não estão fisicamente presentes... E a verdade é que sempre a vi como um exemplo na minha vida, uma pessoa espectacular que eu adoro realmente do fundo do coração e sinto que foi a escolha certa, a ela o meu MUITO OBRIGADO por ter aceite o convite.

O estágio já vai com 17 turnos e faltam menos de 3 semanas para acabar...se está a correr bem? Pois bem que acho que sim, estou a adorar por demais, custa-me ir trabalhar quando faço turno mas quando não vou, sinto saudades daquelas crianças que tanto me ensinam todos os dias. Quando me perguntam algo de lá e começo a falar sinto-me capaz de ficar a falar de cada uma delas durante horas a fio, tanto para contar e tão pouco tempo. Tenho mesmo orgulho naqueles meninos e meninas que são os melhores, os maiores e sempre os vencedores de lutas que acabam, por vezes, por não correr bem e partem. Mas mesmo partindo e perdendo a batalha da vida/morte, não acho que deva ser visto como uma derrota pois as armas usadas por ambos os lados não são justas e o combate é muitas vezes desigual e, a verdade é que lutando como estas crianças lutam, passando pelo que passam, de cabeça erguida, e dando o máximo são, sem dúvida, VENCEDORES ETERNOS!
Numa conversa com uma familiar hoje, houve algo que me disse que me deixou a pensar. Referiu "ah eu era incapaz, não me via a trabalhar num sítio desses! Deve ser preciso ter um coração de pedra, não é?"...Pois bem que fiquei atónito perante aquela pergunta que não era bem uma pergunta mas interpretei como tal e só me saiu: "pois acho que é o contrário, acho que tem de se ter um coração grande para lá estar!" e calei-me pois nem sei o que me deu para aquilo, mas não quero pensar que aquilo seja assim, quero pensar que não tenho o tal "coração de pedra", tento não ser alguém assim e espero que lá não passe essa imagem.
E tenho algo que me surge na cabeça e que me foi dito por um grande amigo meu, alguém muito importante para mim, que conheço há pouco mais de 9 meses mas é realmente alguém por quem dava a minha vida e em quem confio muita coisa. E ele disse-me na nossa última importante grande conversa "Mário, eu avisei-te, tu tens um grande coração e isso às vezes prejudica-te, as pessoas aproveitam-se de ti...". Pois bem que eu depois do que me disseram hoje pensei nesta frase muitas vezes e quero acreditar que ele tenha razão, que apesar de se aproveitarem de mim tantas vezes, eu não perca a capacidade de ver a bondade nas pessoas e consiga ajudar quem precisa...neste momento, estas crianças...

Tenho saudades de Évora, de muita gente e de muita coisa, e sei, sinto que serão dos últimos tempos lá, pressinto seriamente que não lá conseguirei ficar a trabalhar e isso deixa-me triste mas esse pressentimento está cá...Espero que esteja errado, mas não vou facilitar, irei aproveitar lá cada momento!

domingo, 13 de junho de 2010

Nem sei...

Depois de já não aqui escrever há tanto tempo sem ser o assunto o estágio, hoje preciso de o fazer. Depois de um turno que posso dizer que gostei bastante e correu bem, sinto-me vazio, sinto-me distante e sem rumo. Não sei a razão e acho que nem quero saber, pois assumo, tenho medo da resposta. Estar longe, isolado e sem vontade de nada não é realmente agradável mas faz parte e eu já o sabia, sei que acontece e há dias assim, em que o tempo passa porque simplesmente está destinado que assim seja e não somos donos dele.
Estou de mau humor e não é de agora, tem sido assim sucessivamente nos últimos tempos por várias razões. Tenho passado realmente por demasiadas coisas em pouco tempo, desde a nível pessoal como profissional e isso tem sido dificil de gerir. Depois de estar a tentar aguentar-me ao nível que é esperado junto de tantas crianças que são simplesmente uma razão de luta, um exemplo de vida e o um motivo de felicidade e que não têm qualquer culpa de estarem fisicamente doentes e a passar pelo que estão a passar, surgem pessoas com atitudes doentias e que me dão raiva ao invés de calma, que seria o esperado. Foram realmente 3 semanas complicadas de gerir, em que queria ter aproveitado da mesma forma mas sem aquela sensação de observação constante e queria ter estado "mais à vontade" com quem mais gosto e me faz tão bem mas em vez disso não foi sempre possível fazê-lo infelizmente mas deve ser algum tipo de castigo.
Bem tenho saudades de casa, da familia, de Évora, dos amigos e namorada, tenho saudades do mundo e de o ver com um sorriso sincero e alma limpa, o que não acontece há...já nem me lembro.
E está quase, é verdade e assumo isso já desde há algum tempo, o que seria impensável há umas semanas atrás. O curso está a terminar, não está fácil, nem o será o até ao fim, com muito trabalho e pressão mas é inegável, daqui a um mês, se tudo correr bem, terei "o canudo", poderei dizer "sou enfermeiro" com todo o orgulho e sinto-me bem por isso, foi o que quis, o caminho que escolhi e não me vejo a fazer outra coisa. O tempo de estudante está a acabar e tenho realmente noção disso, o que perderei, o que posso manter se me deixarem e o que faço tensão de seguir.
Estou com tanto para fazer e pouca vontade para isso... ai vida...

terça-feira, 18 de maio de 2010

Turno 8 – O Hospital de dia

Hoje o dia foi mais alegre que ontem, já me senti mais à vontade, com grande desejo de aprender mais e a verdade é que o dia terminou literalmente assim, bem.
Permaneci durante o inicio do turno, no internamento, com a atribuição da mesma menina por quem ontem estava responsável nos cuidados e gosto muito dela, percebe bem o porque de estar ali, como fazer nas situações e é comunicativa o quanto baste, o que me facilita na relação com ela. Já realizei alguns procedimentos que ainda não tinha feito, o que me deixa contente e faz-me sentir útil nos cuidados, e ajuda a assimilar melhor o que fazer em cada situação.
Gostei muito do turno de hoje no internamento, foi muito útil e positivo para mim, aprendi bastante mais uma vez e depois no final ainda tive a oportunidade de passar pelo Hospital de dia, para assistir à colheita de medula óssea para realização de medulogramas, entre outras coisas. Foi uma experiência nova, diferente e positiva, pois permite-me ver um pouco “o outro lado”, de diagnóstico/controlo no doente oncológico, em meio ambulatório, ver crianças que já viramos internadas a vir fazer tratamentos e depois poderem regressar novamente a casa, etc. É um sentimento muito bom, ver que estão, no mínimo, com situações clínicas estabilizadas e podem regressar para onde pertencem, para junto das famílias, no seu lar.
Nos próximos turnos, em Hospital de dia e Bloco Operatório, tenho alguma expectativas, de forma a perceber a forma de actuar em ambulatório, procedimentos a realizar em cada criança, como se precede na colocação de cateteres, cuidados a ter em cada situação, etc. Aguardo estes turnos com alguma expectativa.

7º turno - "um dia estranho"

Foi um dia estranho, frustrante para mim. Sinto que estou muito pouco à vontade ainda, muitas vezes não sei resposta a algumas perguntas que me são feitas, outras sei a resposta mas derivado da minha insegurança que ainda tenho mais do que devia, não respondo bem, etc. e isto deixam-me pensativo. Como é que é possível eu, sendo aluno de 4º ano não estar já mais à vontade, poder ser "eu" realmente e mostrar que posso dar muito mais. Ainda não o consegui, não existiu ainda "aquele turno", em que agirei com a certeza e à vontade de um bom profissional. Tenho estudado e muito, investido muito tempo mas muitas vezes estando nervoso e com receio de fazer algo mal acabo por não o conseguir mostrar. De qualquer forma, sinto uma grande evolução na aquisição de conhecimentos, em que muito já tenho aprendido e cada turno saiu com nova lista de assuntos para estudar, histórias de vida para contar, sorrisos marcados e tristezas dificeis de "digerir", mas tudo isso faz parte de uma evolução que já era esperada por mim. Ainda mais quando sinto que, como já me tinham avisado, a nossa preparação na escola não é direccionada para a área oncológica, e a consequente carência de informação nessa area dificulta um pouco todo este processo de aquisição de conhecimentos, de investimento nos mesmos, que se torna assim, um investimento muito mais necessário e obrigatório.
Quanto às crianças, cada dia me sinto melhor junto delas, das suas familias, compartilhando as suas histórias que, por vezes, se torna já mais que necessário para obter um sorriso, embora isso nem sempre seja possível.
Aconteceu uma situação estranha hoje e que assumo, fez-me sentir realmente mal. A situação passou-se com um elemento da equipa de enfermagem e isso ainda me deixou mais desconfortável pois sei bem e, sempre o soube, quais são os meus direitos e os meus deveres enquanto aluno e enquanto pessoa e, isso ninguem me poderá decerto apontar, mas ao chamarem-me "mal-educado" indirectamente por não ceder a minha cadeira na passagem de turno, visto que existiam mais 3 cadeiras disponíveis, deixou-me um pouco decepcionado.
Mas pronto passou e a verdade é que vim para este estágio com vários objectivos, de várias indoles e, dessa forma, tenho de me centrar nisso e nas crianças que me rodeiam ali, me dão alegria e sorrisos e me fazem aprender com eles todos os dias.

domingo, 16 de maio de 2010

Um dia de decisões

Este está a ser um dia complicado, muiiito complicado em relação a algumas decisões...começou ontem com a distribuição de algumas fitas de curso, o que já de si me trás alguma nostalgia e depois o inicio da conversação com a mãe e irmão acerca da escolha de quem será meu padrinho/madrinha de curso. Claro que já pensei na possibilidade de algumas pessoas mas por uma razão ou outra não acho que devam ser. Apercebi-me que já tinha a resposta de quem deveria ser, eu tinha essa resposta, era a minha avó paterna, umas das pessoas que mais contribuíu para eu estar onde estou, uma pessoa que tem muita responsabilidade na pessoa que sou, na que fui e na que serei. Devo-lhe muita coisa da minha pessoa, do meu "ser" enfermeiro e nada me dava mais prazer do que ser ela a assinar a minha fita de madrinha e ir comigo queimar, mas só existe um problema...ela já partiu e não está fisicamente entre nós.
Diz a minha mãe hoje, quando lhe contei "pois filho mas quanto a isso infelizmente já nada podemos fazer" mas notei que ficou sensibilizada com o gesto que lhe falara. Isso foi comprovado à pouco quando no msn me voltou a falar da situação "ela certamente onde está ficará muito orgulhosa de ti...:'( "
Eu sei que está, sei mesmo que será das pessoas que mais orgulho em mim sempre teve e tem, que sei que está comigo sempre que tenho precisado e sempre que precisarei e que, mesmo não a vendo estará comigo naquele dia, ao meu lado e terei dessa forma dois padrinhos, é um dos meus anjos da guarda. E aqui fica o convite para ela, por escrito, além do falado e pensado que há muito ela o sabe.
Fica ainda a duvida de quem fisicamente deverá tomar o seu lugar....e a decisão terá de ser breve que o dia aproxima-se...

O que eu gostava de te ter ao meu lado, de te ter tido ao meu lado nestes ultimos 9 anos, a partilhar comigo alegrias, tristezas, sorrisos, lágrimas e veres-me crescer, entrar para um curso que tanto te dizia e decerto terias ficado contente que eu entrasse. Faço o que faço um pouco por tua culpa, como forma de fazer o que nunca na altura fazer por ti...Adoro-te ;')
Saudades tuas...e tanta falta me fazes avó Arlete...

sábado, 15 de maio de 2010

O 6º turno - "Uma viragem"

Foi o meu sexto turno no serviço, uma noite e como todas elas, foi muito longa, deu para muita coisa e apesar do cansaço, fico feliz que tenha dado para tanta coisa. Aprendi muito nesta noite, desde muitas coisas que fiquei de estudar para o turno de hoje, que junto da enfermeira assimilei e acrescentei mais algumas coisas que faltaram, a outros conhecimentos que fui adquirindo ao longo do turno.
Saí realmente esgotado do turno, feliz mas esgotado, foram dois dias intensos de estudo e depois culminar com o turno longo trouxe muitos beneficios para mim, já que aprendi bastante mas a verdade é que cansou bastante. A nível de contacto com as crianças/adolescentes e familias, como foi um turno da noite, não aconteceu muito, nem aconteceram situações que me levem a reflectir muito, embora haja sempre algo que me deixe mais pensativo. Foi o caso de uma menina nova, que regressou ao serviço à dois dias. Eu não a conhecia, ouvira falar dela mas ainda não a conhecia. Foi hoje que isso aconteceu, conheci-a e pareceu-me uma miúda muito corajosa (como não poderia deixar de ser, após tanto tempo de tratamentos) e consciente do que se passa com ela. Fico muito feliz que, mais uma vez tenha tido oportunidade de conhecer mais uma criança com esta coragem, que tanto tem passado mas mantem uma força imensa e determinação com vista a lutar contra algo que não se pode fugir para já.
O menino com que fiquei, o herói de quem falei no ultimo turno, ali estava, como o tenho visto, calmo e a descansar. Só acordou no final do turno e estava assustado por era por uma razão menos boa, uma colheita de sangue. Embora não lhe doesse ele não sabia ao certo para que era que ali estávamos e eramos os "de branco", logo ainda significa para ele sofrimento. Ainda não cortou o cabelo, algo que a mãe tinha pensado em fazer hoje. Estava já à espera de o ver com o cabelo um pouco cortado mas a verdade é que ainda não foi hoje que esse passo aconteceu. Deve ser realmente um ponto de viragem dificil de dar e de viver, porque inicia psicológicamente uma fase dificil da vida, marca visivelmente o que vai acontecer, tratamentos duros e prolongados.
A verdade é que hoje reparei e dei valor a uma coisa, que já vira, já tinha pensado mas hoje foquei com alguma maior atenção. As familias, os acompanhantes, que durante todo este processo doloroso para os filhos/netos/sobrinhos, mas não menos para eles, os acompanham diáriamente, que no caso do acompanhante oficial fica junto deles 24 horas do dia, a dormir, comer, tomar banho num sitio completamente estranho (que com o tempo, infelizmente, deixa de o ser), a conviver com pessoas que não conhecem, a dormir (quando dormem) em sofás que por muito confortáveis que possam ser, não têm o conforto da sua cama, do seu lar. Claro que se evita ao máximo que a mudança da criança/adolescente e familia, se dê de forma brusca, tentando manter o conforto de um lar, com espaço próprio para cadaum com tudo a que têm direito, mas a verdade é que isso não é possível na totalidade. Depois de ter pensado nisso, pude ver que uma doença oncológica numa criança, é uma doença que fisicamente está presente na criança, mas muitas das vezes as familias, os seus apoios, não sofrem menos que elas, acredito que sofrem com praticamente a mesma intensidade, tratamentos e internamentos prolongados, com as suas vidas em stand-by esperando poder ver bem quem mais gostam. É isto, situações destas, ligações assim que nos distinguem de muitos dos restantes animais, a sensibilidade, a dedicação ao outro que nos é tanto...a humanização.
Resumindo, foi um turno cansativo, muito cansativo, mas muito positivo, permitiu-me aprofundar conhecimentos, reflectir acerca de muitas coisas e dar valor a muitas delas.

"Sempre que se ouve um gemido de uma guitarra a cantar...fica-se logo perdido, com vontade de chorar..."

Estou tão longe, perto da familia mas longe dos que me são tanto, dos meus amigos. Receber mensagens é bom, tão bom mas infelizmente não chega, faltam os abraços, os olhares, os sorrisos e as histórias. Aquelas histórias que nos habituámos a escrever juntos, no dia-a-dia, em almoços, saídas e conversas irrepetíveis. Sei que estou a perder isso convosco nestes dias, nestas semanas e anseio pelo dia em que voltarei, em que possamos voltar a combinar coisas... Tenho tantas saudades de cantar convosco...saudades de tocar viola, bandolim, enfim...fazer música e de ouvi-la, ver a dedicação e o empenho de muitos e que tanto me preeenchem...
Sinto-me frio...estou a arrefecer e isso preocupa-me, o isolamento leva a isso, e estou isolado, demasiado concentrado num objectivo que me está a deixar assim, psiquiatricamente doente...com pouca força para enfrentar o dia seguinte...é brutal ver o quanto a falta do nosso ritmo, dos nossos amigos, da nossa segurança e partilha pode provocar tais situações de solidão interior...
Quero voltar para Évora...para o meu espaço...para a gente da minha terra...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

5.º Turno – 11/05/2010 – “Super herói”






Foi já o 5º turno e sinto que estou ainda muito “verde”, é realmente um serviço exigente, muito exigente e o tempo parece nunca ser o suficiente para dar resposta a tudo o que lá é exigido. Sinto que tenho tanto para dar mas continuo a esforçar-me e sei que não é ainda o suficiente e que já devia saber mais e dar ainda mais de mim, se possível. Tenho aprendido tanto nestes turnos e estudado outro tanto em casa mas não tem sido fácil, nem o suficiente. Tenho adorado imenso este estágio e estava mesmo a precisar dele para me desenvolver como pessoa, como profissional e é impressionante o que se consegue interiorizar a cada turno.
Sinto que ainda tenho muito que provar, sei que ainda não confiam em mim totalmente e sou muito fechado no serviço, só consigo ser “eu” quando estou junto das crianças que são realmente a força inexplicável do serviço e são o meu interruptor, de resto ainda estou com receio, com receio de não saber dar resposta, de não saber estar ao nível pretendido. Mas sem dúvida, é um serviço de eleição e dos que melhor me tem feito e ainda mais em tão pouco tempo.
Hoje conheci um super herói…é verdade, mais um porque ali todos são, todas as crianças e todas as suas famílias. Mas a verdade é que este vinha identificado como tal e com a sua história não podia deixar de o ser. É-lo realmente e não sei como alguém como a sua mãe aguenta uma história de vida como a dela mas a verdade é que nós, seres humanos, não somos máquinas mas, por vezes, tal como nesta situação, a força vem de algum lado inexplicável, havemos decerto de ter algum reservatório escondido. Ver este miúdo, com uma história como a dele e da sua mãe apenas, mais uma vez, me faz sentir mínimos os meus problemas, como é que alguma vez me posso queixar de algumas coisas se existem pessoas que com situações bem mais graves têm uma força e alegria de viver incomparável.
O pequeno super-herói lá ficou calmo e relaxado, mesmo sabendo que está doente e que terá de ficar internado algum tempo e a sua mãe com atitudes de alguém que quer realmente ver o seu filho bem e que tudo fará para isso. Quem diz que os super-heróis não existem? Não acredito. Podem nem andar de fatos pretos com capa e máscara, podem não conseguir levantar rochas gigantes e deitar fogo pelas mãos, mas que existem existem, andam vestidos como toda a gente, respiram como toda a gente, riem e sofrem como toda a gente, mas têm uma força interior e uma coragem como poucos. Este menino é um deles, tal como todos os outros que já conheci neste serviço.
O D., pelo qual estou responsável na prestação de cuidados hoje não estava tão bem como o costumo ver e fiquei preocupado mas depois foi passando, ao longo do turno lá foi ficando mais bem-disposto e comunicativo, lançou alguns dos seus grandes sorrisos e das suas frases que fazem rir toda a gente e fiquei mais aliviado. Gosto realmente de o ver bem e tive a notícia que brevemente vai para casa, já bem merece um tempinho em casa junto de quem mais o quer bem, no seu “mundo”, no seu “canto seguro”.
Foi um turno muito cansativo, com mais umas muitas lições de vida que levo no livro da memória, mas alguma frustração por a título pessoal ainda não estar no nível que gostaria e seria de esperar. Mais de mim irei dar, sei que sim, sinto que ainda posso dar muito e farei por isso, espero que esteja certo e consiga fazê-lo da melhor forma.

domingo, 9 de maio de 2010

Chuva



As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

4º Turno – 09/05/2010 – “O reverso da medalha”

A verdade é que o turno não foi de todo fácil, foi exigente, comecei a preparar terapêutica, a envolver-me mais nos cuidados, fui questionado acerca de algumas coisas pela enfermeira e não saber responder a algumas foi o que me custou. Senti-me realmente frustrado em não saber dar resposta a algumas perguntas que para mim, já as devia saber mas, a verdade, é que não soube. Não há que mentir e dizer que sabia se realmente não o sabia, e agora assim que conseguir irei procurar a resposta ao que ainda não sei. Tenho estudado mas sinto que por muito que o faça, aqui não será nunca o suficiente porque é tudo tão novo e tão especifico que, ao pegar em algumas coisas, levantam-se logo mais dúvidas e como ainda não tinha tido nenhum doente a meu cuidado até ontem, isso era dificultado porque era uma vasta área de assuntos e não conseguia centrar-me em nada especifico. Agora já tenho conseguido fazê-lo, quero realmente conseguir dar resposta a todas estas exigências e estar preparado para prestar bons cuidados ao doente que, neste momento, me tenho atribuído e, ainda aos que, eventualmente tenha no futuro.
Assisti a uma punção lombar, algo que nunca tinha visto ao vivo até hoje, foi-me explicada muita coisa acerca da forma como se procedia, os cuidados a prestar, razões pelas quais se fazem mas muita coisa ainda fiquei de descobrir e espero conseguir fazê-lo.
Mais uma vez passei grandes momentos com o doente que me está atribuído, o menino D., e mais uma vez se provou que temos já uma grande relação , e é bom saber que ele está contente por me ter como “seu enfermeiro”. Com ele tenho aprendido muita coisa, descobri uma doença que desconhecia, necessita de cuidados que nunca tinha prestado nem assistido, e tem uma personalidade extraordinária, muito bem-disposto e divertido. Tem, sem dúvida um grande apoio dos pais, muito da mãe, que é quem está a maioria do tempo com ele e essa ligação é visível. São dos melhores momentos do dia, quando tenho oportunidade de estar com ele no quarto e ver como está, como se sente, etc.
O pior de tudo isto é que, como hoje, custa muito saber algumas informações relativas a ele, e à sua situação clínica e saber que vai fazer radioterapia, que terá como consequência, a possível cegueira bilateral, deixou-me admito, em choque. Eu já tinha calculado essa possibilidade mas como ainda não me tinha apercebido que iria mesmo fazer ainda não me debruçara bem sobre essa possibilidade. Custa-me mesmo imaginar aquela criança, que já a conheço minimamente, nessa situação. Seria sempre difícil de aceitar e seguir, fosse quem fosse que passasse por uma situação idêntica mas nestes casos ainda me deixa mais apreensivo. Sei, sei que é assim, que infelizmente para se conseguir um bem maior, como a vida, é necessário, nestes casos abdicar de outras coisas, como a visão no caso do D. mas não é de consciência tranquila que o faço, não é fácil aceitar embora se saiba o porquê, imagino o caso dos pais, da irmã, dele próprio quando se aperceberem. Mas obvio que o importante é que ele sobreviva e esteja com eles.
Resumindo, o turno foi difícil, assumo que sim, houve coisas muito boas, aprendi muito e trouxe muito trabalho de casa mas existiu então, o reverso da medalha, o facto de se saber de algumas situações menos boas e que isso me deixa apreensivo.

3º turno - "o dia D"

Eu sei que é tarde e que amanhã vou fazer manhã depois de agora ter saído de tarde, sei disso mas não queria ir deitar-me sem antes vir escrever o que aconteceu e senti hoje no serviço. Precisava de libertar para o computador tudo o que senti neste turno. Toda a miscelânea de sensações, de aprendizagem, de vida que trouxe para casa.
Vivi coisas más, digo mesmo que muito más mas, respirei alegrias e sorrisos, vi vida onde as pessoas apenas pensam haver morte, e vi o mundo parar no sorriso de algumas crianças.
Quero começar com o não diria menos bom (como gosto de dizer), mas sim, o mau do turno. Eu tinha a pergunta pendente na garganta durante estes dias e ela tinha que sair, enchi-me de coragem, virei-me para a enfermeira Paula e perguntei após a passagem de turno “então enfermeira…e o X?”. “Olha Mário, o X faleceu ainda na manhã, na 5ª feira, mas olha morreu descansado. Esperou para ver o irmão e partiu…”. Eu sabia, sentia que tinha a resposta mas precisava de ouvir, eu olhei para o quadro de doentes assim que cheguei e tive então a certeza. Custou-me muito ouvir, custou-me viver aqueles meros segundos que trouxeram uma resposta sabida mas necessária para mim. Eu sabia que ia contactar com situações destas, que teria de lidar com a morte de alguém que não teria nunca idade para ir mas que, por alguma razão, aconteceu. Mas sou realmente um ser humano e involuntariamente ligo-me sempre às pessoas, faz parte de mim. Sei que onde estou isso poderá fazer-me, como hoje, sofrer. Mas sou sincero, não quero mudar isso, sofrerei quando tiver de ser, espero que poucas vezes claro, mas a verdade é que acho que as crianças necessitam realmente de nós e ligar-me a elas tem, para mim toda a lógica, preciso disso para me dedicar de corpo e alma a elas, de me dar para poder ajudar e se para isso tiver de sofrer mais outras vezes…que seja. Acho que o balanço será positivo. O caso do X mais uma vez me comprovou que a nossa razão de viver são as pessoas que amamos e que nos dão vontade de viver e, até numa altura como a que temos de partir precisamos de nos despedir delas, com ele foi o irmão, alguém que ele precisava ver uma ultima vez para não ir sem se despedir. Eu posso relativizar as coisas ao dizê-lo mas sinto que estas situações não são ocasionais e acontecem porque o que nos liga e dá vontade de lutar e viver são muitas vezes quem amamos e isto, para mim, vêm dar-me razão .
Essa foi realmente a pior fase do dia. Não me esquecerei do X, jamais. De como chegou, como estava, o que dizia e como agia e fez-me como já disse no ultimo diário, relembrar situações do passado mas foi importante esta situação, aprendi, mais uma vez que ninguém é imune a nada e que mesmo crianças, jovens, podem passar por obstáculos de vida injustos e que nem sempre se vencem.
Mas a verdade é que neste turno retirei muito, mas muito mesmo de positivo, foi o turno em que realmente pude contactar verdadeiramente com as crianças, brincar com elas, falar com elas, resumindo, criar relações e ver como é que é que o serviço funciona “às claras”. E existiram entre todas, 2 crianças que me marcaram muito. Uma delas, felizmente até teve alta hoje e fiquei completamente enternecido com ela, foram precisos apenas uns momentos para criar uma excelente relação com ela e, a verdade é que passado um bocado, parecíamos já amigos há anos. Voltei com ela, a ser criança e era inevitável, aquele sorriso era contagiante, a felicidade de alguém como uma criança, que por ir para casa, para o seu lar, e podia ir comer “batatas às rodas e com riscas”. O que dizer a uma criança que se gostou tanto e que me diz “fica comigo!” ao meu colo e abraçada ao meu pescoço, antes de entrar no elevador e descer para onde é o seu lugar, a sua casa? Sei que apenas consegui pedir-lhe mais um beijinho e dar-lhe um em troca e apenas lhe dizer “Não posso, vou ter de ir trabalhar e tu tens de ir para a tua casa com a tua mãe!” e ela lá foi, com o seu belo sorriso. São estas situações que nos dão alegria, que me fazem sentir que estou realmente onde tinha de estar e espero que nunca me arrependa disso pois tem realmente valido a pena as horas de sono perdidas a estudar e o cansaço que inevitavelmente se acumula.
Foi o dia em que comecei a seguir mais de perto também a primeira criança a quem ficarei responsável por prestar cuidados de agora em diante. Juntamente com a enfermeira decidimos então por aquela que é outra criança que referia acima me ter marcado. Foi por ele que surgiu o titulo deste dia de estágio. Após muita brincadeira, muito riso e conversa surgiu o facto da letra “D” ser uma letra comum aos dois e ser já um dos elos de ligação entre nós, em que após falarmos acerca das letras do seu nome eu lhe ter falado que apesar de Mário ser o meu nome principal tinha como 2º nome um que também começava por D. E depois de lhe dizer que era Daniel ele disse-me “Ah então é a nossa letra” e isso ficou marcado na memória. Mais uma vez não sei como é possível, criar uma relação enfermeiro - criança de forma tão rápida e eficaz. A verdade é que aconteceu e muito aprendi com o meu novo amigo “D”, que é dos miúdos mais radiantes que conheci já no serviço, com uma boa disposição incrível, um sorriso realmente incomparável e com uma força tremenda.
É verdade que com estes miúdos se aprendem lições extraordinárias, se vivem histórias incomparáveis e sinceramente, estes três turnos foram realmente marcantes, inigualáveis. Acho que, a meu ver um estágio deste género era indispensável no curso. Não quero dizer que toda a gente deve-se vir para uma pediatria, percebo e agora ainda mais que exista quem não consiga passar por um serviço assim, não que eu seja melhor ou pior que alguém, até porque eu próprio ainda estou no inicio e a exigência é e será sempre grande tanto pelas situações, pela teoria, pela enfermeira e por mim também, que muito de mim exijo mas tem de ser assim, mas sim porque, como eu tenho e assumo, pontos fracos e não conseguiria passar por alguns serviços, percebo que nem toda a gente conseguisse passar por um serviço como este da pediatria oncológica.
Sinto-me ainda muito perdido, sem uma direcção específica, pois é muita coisa a acontecer, muito para assimilar e parece nunca haver tempo suficiente para tal. De qualquer forma, quero muito, muito mesmo aprender mais, quero crescer e continuar a ver e aprender com aquelas lições de vida dadas por gente de palmo e meio e outros maiores que eu até, mas que tanto têm para dar. É realmente o serviço ideal e que me faltava para colmatar o que me faltava neste curso até ao momento, como profissional e, sem dúvida, como pessoa.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

2º Turno..."A Realidade"

Foi o meu 2º turno verdadeiramente, embora entenda como tendo sido o meu primeiro, pois foi quando, realmente contactei com as crianças minimamente, prestei cuidados, assiti a situações "complicadas", resumindo...vivi e respirei realmente um pouco do serviço de pediatria do IPO.
Não consigo explicar bem por palavras porque só quem passa e sente é que pode perceber o que digo, mas posso dizer que foi um turno em que percebi o quão duro e exigente pode ser um serviço mas senti o quanto quero dar de mim a este estágio, a estas crianças, a este serviço, que tanto terão para me dar também em troca, mesmo sem saberem.
Foi um turno extraordinário, em que em 10 horas aprendi mais de oncologia do que em 3 anos e meio de curso até agora. Percebi que pouco ou nada sabia acerca disto e o que já sabia era algo que tinha aprendido à minha custa, por razões pessoais. Aprendi muito acerca de terapêutica, muitos cuidados que vou ter de prestar e que até hoje não contactei, e a titulo pessoal...já posso dizer que aprendi qualquer coisa importante. A enfermeira Paula mostrou-se realmente disponivel para mim e muito me ajudou neste primeiro turno, em que assumo, estava com receio de não correr bem, de que este primeiro turno corresse realmente mal. Mas não, pelo contrário, retiro um balanço muito positivo deste turno.
Verifiquei, juntamente com a enfermeira como se preparava alguma da terapêuta, algumas especificidades, como se procediam em algumas situações, como se processa o serviço.
O ponto mais marcante da minha noite deu-se com a chegada de uma urgência, do X que é um menino com, meramente 16 anos, em cuidados paliativos e sei que quando para ele olhei à chegada, me pareceu estar a reviver algo pela qual já tinha passado com uma amiga minha no passado, quando padecia de Leucemia, pois a verdade é que apesar dos seus 16 anos, o X até parece mais velho. Isto não invalida que apesar da sua idade pude ver nos seus olhos a consciencia do que lhe estava a acontecer, via-se o medo misturado com a vontade de encarar a situação. Mas via-se que estava fraco, que não era apenas fisico, senti que o cansaço já era um cansaço crónico, da situação da doença que à tanto se prolonga e lhe tem retirado tanto. O X está em cuidados paliativos e sabe-lo, estava em casa para estar no seu lar, estável mas naquele dia não correu bem, precisou de recorrer e vi-o sofrer...vi o seu mal-estar, o seu sofrimento, a sua ansia por respirar e não conseguir e ele sabia do que era, sabia do que precisava. "dêem-me sangue por favor...dêem-me sangue" pedia ele...e ele sabia que as perdas que tinha tido com as fezes era sangue que precisava, já precisava de transfusão e ele sabia-o, sentia-o e pedia por não saber mais o que fazer. Eu vi o X assim e não posso ser impustor, custou-me mas não o queria demostrar a ele nem à mãe. Sou ser humano, sei que era impossivel alguém não sentir nada perante a situação mas à frente dele e com aquela farda desempenho um papel que não me quero esquecer, sou algo mais que humano, sou alguém que está ali para ajudar na situação de doença no que puder, sou enfermeiro e sei o que isso ali significa, a importância que os enfermeiros têm para aqueles meninos e meninas, que estamos ali para o bem e vemos muitas vezes o mal também. E embora custe assistir ao sofrimento de crianças e familias, temos de tentar servir um pouco de pilar e ajudando como podemos, auxiliá-los.
Eu sei, tenho total certeza de uma coisa e neste turno tive a prova disso. Eu sempre, em 3 anos e meio de curso senti que nos estágios cresci e aprendi muito a titulo profissional e, inevitavelmente, pessoal mas neste estágio sei, sinto que será a oportunidade para o salto, espera-me sofrimento, dor, reflexão, aprendizagem mas no fim sei que terei crescido muito, será impossivel que não aconteça. A individualidade de cada ser ali no serviço ainda está bastante mais marcada, cada criança, mãe, pai, avó, tia, etc. tem caracteristicas e formas de sofrer muito diferentes e próprias. Terei de além de conhecimento para prestar cuidados, desenvolver formas de lidar com cada pessoa, com cada familia e isso será essencial para me desenvolver como enfermeiro e, como pessoa claro.
Resumidamente, foi um turno duro, foi, aprendi muito, muito sei que tenho para aprender e quero-o, sinto-me muito motivado e espero que embora seja algo exigente consiga dar resposta a tudo o que me for exigido. Quero realmente dar o melhor de mim e espero puder ajudar...quero mesmo. Será uma longa estrada mas acho que no final a recompensa pessoal será enorme, a humanização inevitavel que se trás de um serviço como este, em que as lições de vida são constantes e marcam o livro da memória para sempre...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O 1º dia - O Mundo Novo




Pois é, não poderia deixar de ser assim, tinha e precisava de vir aqui escrever a minha experiência de 1º dia no IPO, no serviço de pediatria. Foi diferente, muito diferente do que esperava... o porquê?não o sei explicar... Inicialmente fui muito bem recebido pela enfermeira chefe, a Enf.ª Elsa, a ela o meu obrigado. Depois o serviço foi-me apresentado por outra enfermeira Filipa, que também se mostrou disponivel na altura. Depois disto fiquei até ao final do turno olhando para protocolos, sem almoçar sequer e muito nervoso. Muito nervoso porque era tudo novo, nervoso porque me senti perdido e desamparado e dos nervos nem falava com ninguém mas anseava que alguém como habitualmente fazem, pusesse conversa comigo. O estranho? ninguém pôs...fui transparente...até para aquela que em igual cirscunstância se encontra, uma aluna que nem bom dia me disse, nem me tentou ajudar em nada...estranho vindo de alguém que em nada é do que eu. E assim foi, até depois da hora de almoço quando uma das enfermeiras realmente me dá alguma conversa que aproveito para falar mas foi tudo momentâneo e voltou o silêncio até a Enf.ª Elsa regressar da reunião e voltar a falar comigo. Enfim...estranho visto que elas entre elas mostravam ter uma excelente relação, não me terem falado e tentado fazer senti bem. Pelo menos é assim que tenho sido quase sempre recebido noutros locais de estágio.
Mas não foi tudo mau, pequenas coisas fizeram valer a pena todo o turno. Quando me apresentaram o serviço poucas eram as crianças acordadas, mas havia um que me marcou, foi a primeira criança que vi ao vivo em situação de doença crónica e ao contrário do que pensava...não custou, não no sentido em que não senti pena, vi no seu olhar um estado de alguém que sabe que está doente mas não liberta as amarras da saúde de uma criança que como todas as outras sabe que merece viver. A enf.ª perguntou se estava bom e ele com a cabeça acena e diz que sim. Gostei...gostei mesmo de ver que não é como pensava, não tinha de sentir pena mas sim, posso e devo vê-las como crinaças normais, que apenas têm obstáculos na vida que as obrigam a crescer "um pouco" mais depressa. Uma menina que tem cuidados totais com os enfermeiros em que dei por mim a ir ter junto dela na sala quando as enfermeiras sairam e pude ser como sou, a pessos que sou e, à vontade falar e brincar com ela. É uma criança muito bonita e realmente me deu vontade ajudar e cuidar...mesmo e faz-me lembrar o meu estágio de pediatria o ano passado, porque tive uma criança a meu cuidado por circunstancias identicas embora até um pouco diferentes.
Foi estranho e ainda não percebi o porquê, mas senti algo mesmo estranho, uma forma de ver a vida, por parte de uma das enfermeiras, mas calculo de todas, em que são visivelmente pessoas muito doces mas têm inexplicavelmente alguma frieza no que dizem, como dizem...acho que será da necessidade de manter "a distância", aquela necessária a manter a sanidade mental em situações complicadas e será um tipo de escudo da parte delas. e digo isto porque até na apresentação do serviço me diz p.ex. "aqui estão as folhas de óbito...sim também acontece..."
e eu já sabia que acontecia, claro que sabia mas a forma como o disse, ou o tom em como disso foi-me um tom estranho depois de ver a forma como falava com as crianças...
Enfim...um mundo novo...uma experiência assustadoramente nova, tal a exigência teórica que é necessária...uma surpresa ainda demasiadamente recente para saber se positiva ou negativa...
Espero, quero e pretendo mesmo aprender muito ali, naquele serviço, com aquelas crianças. Espero estar à altura de alguém que pode contribuir positivamente para ajudar. Gosto de gostar e de me puder dedicar a quem de mim precisa. Espro mesmo puder ser útil e é para isso que vou trabalhar. Espero que ELE me ajude também, que juntamente com os meus amigos será certamente mais fácil...

E porque a doença oncológica não significa morte e porque a taxa de sobrevivência ainda é grande aqui deixei uma foto em cima que adorei e mostra a maioria das crianças internadas: com um sorriso na cara.


Abraços e beijinhos

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Enfim...aconteceu

Aqui estou eu...aconteceu...estava marcado que tinha de vir...e vim...
Cá estou, deitado sob uma cama desconhecida, a ouvir sirenes de transportes que não conduzo, pequeno numa cidade que não gosto, numa casa onde privacidade não reina nem anda nas palavras de quem cá habita...
223...é o meu quarto...meio...é onde me encontro...enfim, é estranho.
Muitas mudanças para um dia só, de cidade...de pessoas...
Ai pessoas como de vós gosto, como cada abraço, cada aperto de mão, cada beijo, cada olhar, cada palavra...me trouxeram alento, me deram força para seguir e vir para onde estou, fazer o que tem de ser feito porque senão ninguém o fará por mim e é por isso que estou em Évora...foi para isso que os meus pais me pagam e se matam a trabalhar, para que eu seja um enfermeiro bem sucedido...o minimo que lhes posso fazer é cumprir a minha parte do acordo e trabalhar, esforçar-me...ser feliz basicamente...
Mas sem as pessoas que comigo estiveram hoje e mais algumas que sabem quem são, isso não seria possível, são a minha força, o meu alento, o meu sorriso e o que me faz levantar de manhã todos os dias. A todos aqueles que são meus afilhados, formais ou não, a minha namorada, aos meus restantes amigos...como me disse a beluga, o afilhado andré, etc..."até já", "até amanhã"
Adoro-vos e sempre que pensar que tudo oscila pensarei em vós, ligarei sempre que puder, levo-vos comigo para todo o lado...
A
D
O
R
O
-
V
O
S

terça-feira, 27 de abril de 2010

...

Não sei o porquê de me apetecer escrever aqui todos os dias ultimamente mas a verdade é que apetece mesmo... e talvez seja porque tenho tanto para dizer a tanta gente antes de partir desta cidade. Tantas emoções para partilhar com muita gente que gosto e tão pouco tempo e coragem para o fazer. Tenho medo...sinto medo por ir para um lugar que me trás insegurança, me trás solidão e me transmite alguma frieza, aquela cidade perto mas parece tão longe.
Sinto que muita coisa vai mudar nos próximos tempos, para bem e para mal sinto que vão acontecer mudanças, será inevitável...já iniciei uma fase em que noto diferenças, distância por parte de pessoas por quem dava tudo, frieza duns, afastamento de outros...custa viver isto assim, dói ver pessoas a quem damos tudo por vezes nos fazerem sentir sozinhos e sem sentido. Tenho, no entanto, quem me faça o sentir bem, feliz e apoiado. Agradeço a toda a gente, são essenciais para mim e assim espero que sejam porque sem eles não irei aguentar.
Desde já prefiro não especificar até porque as pessoas sabem quem são e só vos digo...ADORO-VOS

domingo, 25 de abril de 2010

A razão do que escolhi, o porquê de para onde vou

"Todo começou quando acordei com um alto no pescoço, eu pensei que tinha sido um jeito que tinha dado enquanto dormia mas estava bem longe de tar certo esse alto foi aumentando até que tinha o pescoço quase quadrado, durante um mes fui ao hospital da minha residencia e la diziam que era apenas um virus que passava com o tempo o virus do "beijinho" (Mononucleose infecciosa) durante esse mes todo foi o que ouvi até cheguei a ser mal tratado não me vou esquecer nunca do que um medico disse"isto não é caso para se vir a um hospital", só mesmo no ultimo dia quando fui a uma consulta devido a outro problema é que a medica achou muito estranho mandou me para o IPO de Lisboa este foi o pior dia da minha vida, fiz vários exames e foi me diagnosticado uma Leucemia, toda a minha familia ficou de rastos eu com apenas 9 anos de iadade ainda não tinha mentalidade para perceber o que se estava a passar mas não foi perciso muito tempo para perceber,passados uns dias internado percebi o que se tava a passar percebi que afinal o virus que tinha que a minha mãe tanto tentava me esconder dizendo que era um virus que passava, afinal era um cancro, os primeiros tempos no hospital foram os mais dificeis fiz os meus 10 anos na cama do hospital, não podia brincar com os meus amigos, os tratamentos deixavam me muito em baixo, fui obrigado a crescer e rapidamente ja não era uma criança que brincava com action mens mas sim um pequeno adulto com uma vontade de viver que foi capaz de ultrapassar tudo pa seguir em frente na vida os anos foram passado eu ia crescendo e sobrevivendo mas ao mesmo tempo via amigos partir o que foi muito dificil, eu consegui vencer e tenho de agradecer a deus, aos medicos que me curaram, as enfermeiras, auxiliares que tam bem me trataram todos daquele magnifico hospital o IPO de Lisboa e principalmente ao apoio da minha familia principalmente da minha mãe e da minha avó foram eles que me fizeram vencer esta luta sem eles não era capaz Obrigado!!! Hoje passado 10 anos sou um rapaz saudavel apesar de ter ficado com muitas sequelas posso dizer que o que intressa é que estou vivo podia já não tar cá para vos contar a minha história mas felizmente tenho essa sorte de ter ultrapassado tudo e de estar bem. Tenham sempre vontade de viver se o tiverem ja e meio caminho andado para vencer." Relato de Paulo Ponte

Pois é...é inevitável e está a chegar o momento da verdade. É para ajudar fazer o meu melhor em situações como a que o Paulo relata que vou estagiar para onde escolhi seriamente à uns meses...Serviço de Pediatria do IPO. Ao longo do período desde a minha escolha até ao dia de hoje, já muito me foi dito.
Começou por a própria professora orientadora me dar a entender que não queria lá colocar alunos da escola, mas eu insisti e depois de muitas conversas com ela e outros colegas que la tiveram antes, lá me foi permitido ir... Depois já muita gente me disse que não vou conseguir aguentar bem esta carga toda, que a minha personalidade vai levar-me a sofrer muito com o que lá se dá, outros acham que consigo por essa mesma razão. Muita gente quando me pergunta para onde vou e lhes digo "IPO pediatria" automáticamente torcem o narzi... E eu? pois eu não sei...seriamente que não sei...
Tenho uma resposta aliás, vou com vontade de ajudar quem mais precisa, vou porque não me iria perdoar se não o fizesse, trata-se de um objectivo pessoal de há muito tempo que tinha de ver cumprido. Sempre fui teimoso e esta não foi excepção.
Vou contar o porquê de querer vir seguir este caminho, o porquê de querer ajudar estas crianças ou qualquer doente oncológico. Vi partir a minha avó, tinha eu 13 anos, ela viveu ou sobreviveu (nem eu tinha noção dessa diferença na altura) com a doença durante esses 13 anos, pois descobriu que a tinha antes de eu próprio nascer e já não era tratável. Eu cresci sempre com a ideia de ver a minha avó às vezes em tratamentos, outras vezes não. Para mim era uma situação normal e fui criado com ela e lá passava muito tempo enquanto os meus pais trabalhavam e sempre a conheci assim. Era doente e eu sabia mas não entendia a diferença para as restantes doenças como uma constipação ou uma gripe. Nunca me escondeu o seu peito quando se vestia e viu-o muitas vezes, cada vez pior mas não entendia o porquê. Para mim era uma ferida. Até que nos seus ultimos tempos tudo piorou demasiado...tinha o que hoje sei que eram metásteses osseas, faleceu no dia 23 de Janeiro de 2001, anos do meu irmão e sei que a sua ultima frase foi "só tenho pena de cá deixar os meus netinhos"...dói tanto pensar nisto...dói mesmo mas a vida assim o quis e levou a minha avozinha...
Não foi só isto...aos 18 anos levou uma boa amiga que tinha, tinha eu 17 anos na altura. Lembro-me da frase da minha mãe quando me informou da doença da Carla "olha filho acho que a Carla tem qualquer coisa ruim no sangue". eu tinha 16 anos, para mim podia ser qualquer coisa...menos... uma Leucemia...algo que vim a saber uns dias depois. "ok vai curar-se, a Carla vai decerto curar-se, não sei bem o que isso é mas é a Carla, tem uma força brutal, um sorriso hilariante..." foi o que pensei. Muito vi e assisti da Carla no seu processo de doença, e já tendo uma idade diferente para compreender, sabia o que ia acontecendo. Assisti a alegrias e tristezas...à alegria de saber que tinha encontrado um dador, a tristeza de meses depois ter rejeitado, a alegria de encontrar novo dador e...a imensa dor de a ter perdido meses depois...mais uma vez não me vou esquecer...sabia que estava já muito mal e lembro-me de ver a minha mãe a subir as escadas de casa e olhar para mim enquanto lavava o aquário e me dizer "daniel, a carla..." e começar a chorar. Só lhe respondi "deixa, já percebi" e continuei a lavar embora a mente estivesse estática. não queria ir velála, não queria vê-la morta mas fui, a minha mãe obrigou-me e quando lá cheguei a mãe dela pediu-me que lhe tocasse, que sentisse os seus cabelos e lhe desse um beijinho. Relutante eu fui e assim fiz, não estava morta...dormia eternamente e isso é diferente, eu estava mais frio que ela e isso fez-me senti-la quente, os seus cabelos estavam lindos e macios...ela estava linda. Hoje fiz dela um dos meus anjos da guarda, juntamente com a minha avó. Lembro-me das suas gargalhadas e tudo o mais. Amo-as para sempre. A minha tia passou por algo idêntico, um meningioma, mas tudo ocorreu pelo bem e hoje está bem, dentro do que lhe foi possivel mas está viva e isso é o mais importante para mim.

São estas as razões especificas da minha escolha, foi por elas que prometi que iria dar o meu melhor e tentar fazer o que com elas eu não consegui, ajudar nos piores momentos, estar nos tratamentos, perceber o que fazia e dar o meu melhor e isso com elas nunca o pude fazer, não sabia como, não tinha como...
Quem não me conhece fica agora a saber um pouco do passado, quem já conhece e não sabia fica a agora a perceber porque me custa às vezes tanta coisa, porque me custa tanto errar na vida...Desculpem quem já magoei...Obrigado a quem compreende e mesmo a quem não compreende, por estarem comigo quando precisei e preciso

sábado, 24 de abril de 2010

Depois dum dia bom, veio o mau claro...triste e sem esperança

Belo dia pois...quando tudo devia soar a bem, a chuva parece ter tomado conta de mim.
A uma semana de ir embora, sair da cidade de Évora que tão bem me acolheu à 3 anos e meio, para não saber se para cá volto ou se só venho de vez em quando, ouço 2 pessoas das que do mais importante são para mim desconfiarem do valor que lhes dou por causa de uma mera e maldita frase...Como é possivel alguém de quem gosto, por quem dava a vida e já mostrei o quanto gosto e respeito pensar sequer numa situação dessas. Sinto-me triste...sinto-me sem saber o que pensar, o que dizer, como agir... e tudo isto a uma semana de partir...
Nem acredito que se aproxima este dia, que terei de sair desta cidade, de abandonar estas pessoas, este projecto da tuna, vou ficar vazio, vou para um local em que devia ir cheio de mim, de energia, de apoio e não o vou...vou com um mero corpo pois a alma não quer sair daqui...está agarrada e não descola, esta espalhada pelas várias pessoas a quem já de mim dei um pouco e é a forma que tem de se proteger e evitar sair daqui...
Não posso obrigar a minha alma a sair, era injusto, foi aqui, com estas pessoas que ganhou e sentiu vida, foi aqui que tem passado alguns dos melhores anos da sua existência, aprendeu a andar por si e respirar lado a lado com as outras almas vivas dos meus então amigos. E como não a posso obrigar a vir comigo e, sinceramente, não o quero fazer, vou deixá-la cá, vou deixá-la com quem confio, quem a pode tratar e alimentar. E sendo assim, vou vazio, vou viajar sozinho com um corpo ausente, que apenas desempenhará funções vitais, tentado contra a corrente ajudar quem mais precisa...as crianças. Vou para um sítio onde sempre quis tentar passar mas agora que para lá estou quase a ir admito...estou em pânico, a caminhar para um beco que terei de trepar sozinho, sem apoio e não tenho rede nem almofadas a apoiar futuras quedas...pois essas estarão a mais de 100 km de distância, longe para quem quiser chegar e amparar...
Estou triste, vazio e agarrado a uma droga que não é reconhecida como tal mas a sua depência é extrema...amizade e música...
Desta forma aqui vou pôr uma das músicas que mais poder tem sobre mim nesses momentos de tristeza, dá vontade de realmente...voltar ao inicio.